
A tradição natalina brasileira é reunir a família em torno de uma mesa farta para celebrar a data cristã. Mas com a insegurança alimentar que assola o país, esse ano vai ficar ainda mais difícil fazer ceia de natal, já que a fome no Brasil atinge 26% da população. Segundo uma pesquisa feita pela Datafolha, divulgada nesta sexta-feira (24) pela Folha de S. Paulo, 37% daqueles que tem renda mensal de até dois salários mínimos afirmam que a quantidade de comida em casa não foi suficiente para alimentar suas famílias nos últimos meses.
Entre as pessoas que estão desempregadas, mas à procura de emprego, 45% dizem passar fome. Já entre os que desistiram de encontrar uma ocupação, o percentual é de 34%.
O patamar mais elevado de pessoas afetadas pela falta de comida é encontrado no Nordeste (35%). Nas demais regiões do país, varia de 21% a 25%.
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A insegurança alimentar também reflete na escolha política da população. 34% das pessoas que passam fome votariam no ex-presidente Lula (PT) em 2022, enquanto apenas 12% escolheriam Jair Bolsonaro (PL).
O levantamento também mostra que 15% dos brasileiros deixaram de fazer alguma refeição nos últimos meses por não ter comida em casa. O número sobe para 23% entre as famílias com renda mensal de até dois salários mínimos. Nas demais faixas, varia de 3% a 6%.
Além disso, 17% e 15% são pardos e pretos, respectivamente, enquanto 11% são brancos. A percepção de que a população não tem o que comer também aumentou. 89% dos entrevistados afirmam que, no período de pandemia, cresceu o número de pessoas que passam fome no Brasil.
Movimentos sociais ajudam a amenizar a fome
Em um ano de abandono de políticas públicas e com o avanço da fome, coube à sociedade civil se organizar para salvar a vida de brasileiros atingidos pela extrema pobreza. O MST inaugurou, em 11 de novembro deste ano, uma cozinha comunitária nas palafitas do Pina, na zona sul do Recife.
No espaço, o movimento distribui cerca de 500 refeições por dia, para famílias pobres e em situação de rua. A cozinha comunitária recifense é consequência da campanha “Mãos solidárias”, que já entregou 600 mil marmitas e 890 mil toneladas de alimentos da reforma agrária, produzidos pelo MST, em todo o país.
O MST também vai doar 700 toneladas de alimentos diante da campanha Natal Sem Fome do MST. Na quinta-feira (23), alimentos foram distribuídos em diversas regiões do Brasil.
Os alimentos doados pelo MST vem em sua maioria de assentamentos, acampamentos e cooperativas da Reforma Agrária Popular. Esse montante está sendo arrecadado com o apoio das campanhas promovidas pelo Movimento em conjunto a uma rede de solidariedade para beneficiar famílias vulneráveis, em situação de fome e insegurança alimentar nas periferias urbanas e rurais do Brasil.
O movimento pretende completar 700 toneladas de alimentos doados até o Natal e alcaçar a incrível marca de mil toneladas de doações até o dia 6 de janeiro. Além dos alimentos distribuídos em cestas, serão doadas marmitas e ceias populares para cerca de 30 mil pessoas em todas as grandes regiões do país.
A solidariedade com os brasileiros mais pobres também foi uma dos pontos destacados pela Coalizão Negra por Direitos em 2021. A organização organizou a campanha “Tem Gente com Fome”, que arrecadou R$ 21,5 milhões e distribuiu alimentos para 222 mil famílias cadastradas pela entidade, em todas as regiões do país.
Em outubro, a organização não-governamental (ONG) Ação da Cidadania realizou uma mobilização contra a insegurança alimentar no Rio de Janeiro com o objetivo de promover o lançamento da campanha Natal Sem Fome.
“O Brasil abriu alas para a maior campanha de mobilização solidária da América Latina, o Natal sem Fome. Cada ação da campanha Natal sem Fome deste ano é um convite para que você dê asas à solidariedade e ajude como puder. Cada R$1 doado se transforma em um prato de comida”, afirmou o movimento.