O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) afirmou, nesta quarta-feira (17), que existe um “negacionismo da esquerda” em não admitir que existem ações realizadas durante as gestões do Partido dos Trabalhadores (PT) no governo federal passíveis de investigação. Em entrevista à TV Democracia, comandado pelo jornalista Fábio Pannunzio, o parlamentar afirmou que, apesar de não concordar com a maneira com que processos contra o ex-presidente Lula foram conduzidos, se referindo à Operação Lava-jato, é inegável que foram cometidos crimes.
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“Uma coisa muito ruim é negacionismo também da esquerda. Se a gente ataca o negacionismo da direita, existe sim o negacionismo da esquerda. Não adianta fingir que não houve problema, não teve contradição, que não tinham coisas que deveriam ser investigadas, não da forma que foi não, com o propósito que foi, mas determinadas coisas no governo do PT deveriam ser investigadas. Claro que sim. Tivemos problemas concretos graves. Isto não é um debate de autocrítica, mas de Justiça. Então não adianta o negacionismo”, afirmou.
Apesar das críticas, Freixo fez questão de criticar a prisão do líder petista e demonstrar seu respeito à história do PT. Sobre uma provável candidatura em 2022, ele foi enfático em dizer que é um direito de Lula, mas demonstrou preocupação com uma nova polarização do eleitorado o que, segundo ele, propiciou a vitória de Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições de 2018.
“Acho que Lula tem o direito de ser candidato, foi vítima de uma ação política orquestrada dentro do Poder Judiciário, tem o direito sim. Mas espero que eles não repitam os erros de 2018, só espero isso, não repitam os hegemonismos e os erros para não corrermos em 22 o risco e o absurdo de 18. Existe o antibolsonarismo e, de outro lado, o antipetismo. A pior coisa do mundo seria uma disputa de quem tem menos rejeição. Espero que a gente consiga, através de um programa e com capacidade de articulação, compromisso com a democracia, construir algo mais amplo do que em 2018”, concluiu
Mudança de partido
De acordo com informações do jornais O Globo e Brasil 247, Freixo tem sido procurado por lideranças de diversos partidos que têm interesse em lançá-lo candidato ao governo do Rio de Janeiro nas próximas eleições. Uma dessas legendas seria o próprio PT, que já afirmou que irá construir um palanque para Lula no estado e busca uma candidatura forte.
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“Podemos caminhar com um candidato próprio. Temos bons nomes, como Benedita da Silva, o presidente da Alerj, André Ceciliano, e o prefeito Fabiano Horta. Mas podemos apoiar outras candidaturas, como a do ex-prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, ou do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Também estamos de portas abertas para o Freixo. A volta de Lula impulsiona uma candidatura de unidade”, afirmou Washington Quaquá, membro da Executiva Nacional da sigla.
Segundo a reportagem do O Globo, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) estava em negociações avançadas para filiar o parlamentar carioca, mas a situação mudou após a anulação das condenações de Lula. Por isso, o prefeito de Niterói e presidente do partido no Rio, Rodrigo Neves (PDT-RJ) passou a ser o nome mais cotado para a disputa.
Conversas com o PSB
Dada por muitos como certa, a saída do deputado do PSOL será motivada pelas dificuldades da legenda em construir a tão sonhada unidade contra as forças bolsonaristas e de ultra-direita. Ainda em conversas, Marcelo Freixo não deu indícios de ter tomado qualquer decisão, mas segue defendendo a criação da Frente Ampla.
“Em 2022, estarei no partido que fizer parte de uma unidade em busca da reconstrução do Rio. Não podemos começar a planejar uma candidatura com nomes, o que leva a divisões, mas pela definição de ampla frente democrática que reúna forças políticas, partidos. Isso evita a divisão”, comentou.
O Partido Socialista Brasileiro (PSB) também é apontado como uma das possibilidades levantadas por Freixo. Porém, sua união com os socialistas enfrenta a resistência do deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), com quem ele disputa votos do eleitorado carioca de esquerda.
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Além das principais legendas da esquerda, o assunto já foi tema de encontros do político com Rodrigo Maia e o prefeito Eduardo Paes, ambos do Democratas (DEM). Segundo Freixo, essa aproximação é natural já que Bolsonaro forçou a chamada “direita democrática” ou “centro direita” a se direcionar para o alinhamento político de “centro” com suas ações descabidas.