Vencedora do prêmio Nobel da Paz no ano passado, a jornalista filipina Maria Ressa falou na terça-feira (15) sobre o Brasil como um dos exemplos de países que sofrem com a onda crescente de desinformação no mundo e como ela precisa ser combatida diariamente em vários níveis.
“As eleições são críticas para o Brasil”, disse Ressa, que criticou ainda a condução do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia. — Ele deixou a população extremamente vulnerável à covid-19.
O comentário de Maria Ressa aconteceu no South by Southwest (SXSW), evento de inovação e cultura digital realizado em Austin, nos Estados Unidos. Sua participação na mesa “Como enfrentar um ditador” foi virtual porque as autoridades filipinas não liberaram sua viagem a tempo.
Com ela no debate, esteve presencialmente em Austin o jornalista Peter Pomerantsev, um britânico que nasceu em Kiev na época da União Soviética e que é pesquisador na Universidade Johns Hopkins. A mediação foi de Stephen King, CEO da organização filantrópica Luminate.
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Um dos principais temas da conversa foi o peso das redes sociais para a democracia. Ressa fez críticas severas à maneira como os algoritmos vêm impulsionando informações falsas e como isso tem se tornado uma ameaça ao redor do mundo.
“As mentiras correm exponencialmente, e vai continuar assim até que tenhamos boas leis para combatê-las”, disse ela, atribuindo ainda responsabilidade da disseminação de notícias falsas às redes sociais.
“Elas não são mecanismos de liberdade de expressão, mas de liberdade de distribuição. E nem é uma comunicação direta, como um telefone. Há uma impressão digital do algoritmo nessa comunicação.” Maria Ressa
Maria Ressa, assim como a ex-executiva e denunciante do Facebook, Frances Haugen — que participou do SXSW na segunda-feira (14) —, afirmaram que para os países com línguas distintas do inglês, os mecanismos de controle são falhos.
Brasil e Rússia, além dos Estados Unidos, foram citados como exemplos de locais onde a desinformação ganhou vulto e poder. Ressa destacou a importância do jornalismo independente e da checagem de fatos como cruciais neste ano em que várias eleições importantes estão em curso. Nas Filipinas, o pleito acontece em 54 dias.
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“Os perigos aumentaram muito”, disse Maria Ressa. “Estamos tentando encontrar uma nova maneira para a sociedade civil, mídia, organizações empresariais e religiosos lidarem com as mentiras exponenciais. Espero que seja suficiente, porque se não, os dominós voltam a cair e fica muito mais difícil nos recuperarmos.”
Peter Pomerantsev, por sua vez, destacou a importância da conscientização de empresas que lidam com a tecnologia e informação, sobretudo em países em que existe controle de conteúdos:
“Há uma censura e uma enorme intimidação do público russo dentro da Rússia. Google e Apple têm o poder de entregar a verdade a todos os russos que têm um telefone alimentado por seus sistemas, essas empresas precisam entender seu papel nessa dinâmica.”
O SXSW retonrou neste ano ao formato presencial, após interrupção de dois anos pela pandemia, e segue até o dia 20 de março.