Em entrevista ao Poder 360º, a presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) admitiu a possibilidade de seu partido construir uma aliança com outra sigla de esquerda e abrir mão da cabeça de chapa na eleição presidencial em 2022. Ela afirmou, no entanto, que para isso é preciso “ter voto” para assumir essa posição.
“É possível – claro que é possível – fazer um acordo, fazer uma composição, ter um plano que nos unifique. Mas para assumir uma cabeça de chapa tem que ter voto, né? Quem é que tem hoje votação expressiva no Brasil? Às vezes as pessoas dizem assim: ‘Fulano seria melhor para o 2º turno’. Só que para chegar no 2º turno precisa passar pelo 1º. E voto, capital eleitoral, é algo que se acumula da sua vivência, da sua disputa política, do seu posicionamento… É uma construção. Política não é um ato de abrir mão, é um ato de composição”, disse.
Hoffmann confirmou que há diversos nomes no campo da esquerda sendo sondados e que podem assumir a cabeça de chapa na disputa pela Presidência no próximo pleito. Fora do PT, ela citou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).
“Tem vários nomes. Tem nomes no PT e tem nomes em outras legendas, como é o caso do Flávio Dino, que tem se colocado no cenário nacional. Não há problema nenhum em discutir isso, termos um acordo… Mas é isso que eu te digo: numa disputa eleitoral, você considera também a sua capacidade eleitoral, de votação. Obviamente, se a gente tiver uma liderança com mais intenção de votos, é óbvio que para a disputa eleitoral isso tem um peso significativo”, diz.
Ciro Gomes
A congressista também afirma que Dino “tem sido um grande companheiro”. Ela criticou o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), candidato derrotado no 1º turno da última eleição presidencial.
“O Ciro Gomes teve a oportunidade de estar [junto ao PT] no debate e não quis. E tem sido muito deselegante – para dizer exatamente: desagradável – com o PT, com as nossas lideranças. Não acredito que seja possível uma aproximação, mas nós nunca colocamos nenhuma barreira”, declarou.
Lula e anulação da sentença
Durante o programa, gravado no último dia 10 de setembro, Gleisi esclareceu que, por ela, o candidato da esquerda seria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atualmente está inelegível por ter condenação confirmada em 2ª Instância no Judiciário. A deputada afirma ainda ter esperança na anulação da sentença contra o ex-presidente “porque ela é injusta”. Se isso ocorrer, Lula volta a ser elegível.
“Nosso objetivo não é buscar elegibilidade do presidente Lula; é buscar Justiça para o presidente Lula. Nós queremos a anulação da sentença porque ela é injusta, ela é ilegal. O [ex-juiz federal] Sergio Moro, que condenou o Lula, virou ministro [da Justiça e Segurança Pública] do Bolsonaro. (…) A minha vontade e a da maioria do PT é que Lula seja candidato novamente; que Lula dispute a eleição presidencial”, afirma.
A congressista diz, no entanto, que a decisão de concorrer ou não na eleição presidencial de 2022 cabe a Lula. Ela também declara que o pronunciamento que o ex-presidente fez no feriado do 7 de Setembro não foi uma “estratégia” para a eleição, mas sim um desejo que Lula já tinha “há muito tempo”.
Possíveis nomes da Direita
No campo da direita, a presidente nacional do PT diz que não vê um nome forte em condições de disputar a Presidência. Neste momento, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e os ex-ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde) são apresentados como possíveis alternativas a Bolsonaro.
“Podem até lançar [esses candidatos]. Duvido que tenham competitividade. Duvido. O Brasil é diferente de São Paulo. A diversidade do Brasil, as regiões… Então, transportar o que o Doria fez para o resto do país é muito difícil. Não são pessoas que tenham liderança. Aliás, é muito engraçado que, quando o Mandetta saiu do Ministério da Saúde, todo mundo apostava que ia ser uma catástrofe para o governo Bolsonaro. Ele [Bolsonaro] não deu nem bola e continuou fazendo o que ele estava fazendo. Aí veio o caso do Moro. O Moro achou que ia abalar os alicerces da nação: ‘Vou sair do Ministério da Justiça, vai acabar o governo Bolsonaro’. Aconteceu a mesma coisa. Bolsonaro não deu bola para ele. Moro, não sei nem por onde anda. Agora não é juiz, sei lá se está dando aula, vai ter que responder pelos crimes que cometeu no processo da Lava Jato… Apagou”, afirma.
Sobre o apresentador Luciano Huck, que também é mencionado em pesquisas como alternativa à Presidência em 2022, Gleisi diz que é possível conversarem, no sentido de manter um canal de diálogo, mas declara enxergar “uma grande dificuldade” de “caminhar junto”. Isso porque “um abismo” os separa “em termos de entendimento do projeto de desenvolvimento do país”.
Liderança de Lula
A petista ainda diz que a direita “tem inveja porque não tem uma liderança como o Lula” em seu campo. A afirmação de Hoffmann foi uma resposta a declarações feitas pelo vice-presidente Hamilton Mourão no Poder em Foco da última semana. Na ocasião, Mourão disse que ainda não surgiu nenhum outro líder no PT com a capacidade de Lula para atração do eleitorado.
“Acho que eles têm inveja, porque não têm uma liderança como Lula no campo deles. Estão tentando fazer Jair Bolsonaro algo parecido, que nunca vai ser. Basta ver o discurso do Jair Bolsonaro no 7 de Setembro, como ele age, o que ele faz. Pode ser um cara de pegada popular, impulsionado pelas redes, pelas fake news, pelo trabalho que eles fazem, mas não é um líder que tem visão de país, [não é] um estadista, não tem noção de desenvolvimento, de condução do Brasil. Veja o que estamos vivendo agora. Isso que estamos vivendo com os alimentos agora é uma tragédia”, responde.
PT nas Eleições 2020
Gleisi afirma que o PT está “mais animado” para a eleição municipal deste ano em comparação com pleitos anteriores.
Desta vez, o partido terá em torno de 1.600 candidatos a prefeito. É quase o dobro dos 960 nomes lançados em 2016. O patamar atual é próximo das 1.800 candidaturas da eleição de 2012.
Maia e Alcolumbre reeleitos
A presidente nacional do PT declara ser contra as reeleições dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ela afirma:
“A Constituição é clara: não pode. Acho que a gente tem que parar com os casuísmos no Brasil. Em cada situação a gente adequada a Constituição ou reinterpreta a Constituição para poder privilegiar ou tirar quem quer que seja do comando. A regra é clara: pode um mandato em cada legislatura. O Rodrigo já cumpriu isso, no meu entender, não pode [reeleger]. O Alcolumbre ele já cumpriu também.”
Pela letra fria da Constituição, Maia e Alcolumbre só podem ficar no comando das duas Casas do Congresso até 31 de janeiro de 2021. Na 1ª semana de fevereiro têm de ser eleitos novos presidentes da Câmara e do Senado. Os dois, no entanto, tentam contornar esse obstáculo legal com estratégias distintas, conforme o mostrou em reportagem publicada em julho.
Com informações do Poder 360º