Após zerar o imposto de importação do arroz para ajudar a reduzir a pressão inflacionária, o governo avalia agora medidas voltadas ao material de construção, caso os preços não voltem a patamares considerados razoáveis até o final deste ano.
Desde o fundo do poço da pandemia em maio, os insumos da construção registraram altas enquanto o setor esboça uma retomada.
Em agosto, o tijolo subiu 9,32%, depois de uma alta de 4,13% em julho. Com o cimento, os preços se elevaram 5,42% no mês passado, ante 4,04% em julho.
Sobe e desce de preços
A Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Economia, tem monitorado o sobe e desce de preço. Para o órgão, a alta ocorre no momento em que diversos setores, principalmente da construção civil, dão sinais de recuperação em”V”.
Depois de móveis e eletrodomésticos, as vendas de materiais de construção foram as que registraram maior crescimento, 22,7% em relação a agosto do ano passado, segundo pesquisa de comércio do IBGE.
Entre julho e agosto deste ano, a inflação da construção civil divulgada pelo Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e índices da Construção Civil (Sinapi) saltou de 3,33% para 3,78%.
Aumento
Pesquisa recente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) com 462 empresas de 25 estados aponta que 95% delas verificaram aumento no preço do cimento, e 90%, no de cabos elétricos. No caso do concreto, 81% perceberam alta de preço durante a pandemia. E, em bloco cerâmico, 75%.
Preocupado em manter sua popularidade em alta após a concessão do auxílio emergencial à população de menor renda, o presidente Jair Bolsonaro pediu a seus auxiliares mais próximos atenção à escalada de preços que afetam o bolso do consumidor. Ele quer medidas para reduzir a pressão inflacionária.
Nesta semana, por exemplo, após o preço do arroz subir mais de 20% nos supermercados, o governo decidiu cortar o imposto de importação sobre 400 mil toneladas do produto. A proposta foi do Ministério da Agricultura e encampada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Suspensão da alíquota de importação
Na quarta-feira (9), Guedes deu aval para que os representantes de sua pasta, que comandam a Câmara de Comércio e Exportação (Camex), aprovassem a suspensão da alíquota de importação do arroz (que é de 12%) para países de fora do Mercosul. Dentro do bloco, a tarifa é zero.
A medida valerá até o fim deste ano e ficará restrita a uma cota de importação de até 400 mil toneladas. Acima disso, incidirá o imposto de 12%.
Segundo a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, os produtos devem chegar principalmente dos EUA e da Tailândia. Esse movimento, combinado com a conclusão da colheita do arroz nas próximas duas semanas, deve equilibrar a oferta e, assim, reduzir a pressão sobre os preços.
Técnicos da Economia, no entanto, dizem acreditar que os efeitos completos dessa importação só devem ocorrer dentro de dois meses.
Pressão inflacionária
Para integrantes do governo, essa pressão inflacionária deve persistir por mais três meses, especialmente nos alimentos e em material de construção.
Por isso, avaliam esperar mais algumas semanas, um mês, no máximo, antes de partir para a suspensão temporária da tarifa de importação de insumos da construção.
Auxiliares de Bolsonaro, no entanto, preferem medidas mais eleitoreiras, mirando a popularidade do presidente.
Atenção aos aumentos
Estão atentos a analistas políticos que afirmam que o voto dos menos favorecidos é diretamente proporcional ao assistencialismo do governo. Pesquisa do Datafolha mostrou alta da popularidade de Bolsonaro após a política de auxílio emergencial durante a pandemia, especialmente nos rincões do país.
Como mostrou a Folha, o Ministério da Justiça contrariou estratégia liberal das pastas da Economia e da Agricultura ao notificar na quarta supermercados e produtores a explicar o aumento do preço de alimentos da cesta básica.
A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao Ministério da Justiça, irá investigar possíveis abusos de preços praticados por 65 varejistas e cooperativas.
Com informações da Folha de S. Paulo