Natural de uma aldeia localizada em Tabatinga, no Amazonas, a estilista We’e’ena Tikuna assina a primeira grife de moda genuinamente indígena do Brasil. Um momento histórico para os povos indígenas do Amazonas que ocorre no Brasil Eco Fashion Week nesta sexta-feira (27), às 19h (horário de Brasília),
Segundo registra o portal Amazonas em Tempo, We’e’ena Tikuna irá apresentar a coleção ”Nho’e – Espírito das Árvores”, levando o tecido tururi para as passarelas pela primeira vez.
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“É importante essa visibilidade aos povos indígenas nos tempos atuais, pois toda arte é uma forma de resistência. Com minhas peças de moda, quero dar visibilidade à cultura indígena, à mulher indígena e à beleza das criações de artistas contemporâneos que lutam pela causa dos povos originários”, ressaltou We’e’ena, a jovem estilista por trás das obras.
Ainda segundo a estilista, arte é uma resposta a todas as formas de preconceito contra os povos originários. “Por muitos anos, fomos tutelados por terceiros.
Chegou a nossa vez de mostrarmos a nossa capacidade”, comemorou.
Confecção extraída da entrecasca de árvores seculares, o tururi é um tecido orgânico, utilizado na região amazônica como matéria-prima para uma diversidade de produtos artesanais e para a confecção de peças ritualísticas.
Representação indígena
Além do tururi, a artista também utiliza materiais como sementes de açaí, palha de tucumã, fibra de madeira – usado em rituais do povo Tikuna -, e tingimentos naturais nas pinturas dos tecidos, como jenipapo e urucum. A marca ”We’e’ena Tikuna Arte Indígena” expõe elementos pioneiros na moda profissional.
A coleção “Nho’e – Espírito das Árvores” trabalha exclusivamente com tecido de algodão cru e fibras de Tururi.
Os grafismos que compõem as peças são pintados manualmente por We’e’ena, que é artista plástica formada pelo Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura da Amazônia, em Manaus.
Como tudo da marca ”We’e’ena Tikuna Arte Indígena”, a escolha do algodão também carrega um significado: fonte de inspiração da estilista indígena, ele está diretamente ligado com a natureza por ser orgânico.
Os grafismos nas peças também carregam diversas simbologias. Cada modelo expressa um significado diferente.
Imitando a escama de tartarugas e cobras, o peixe bodó e penas de aves, a arte reflete a origem da criadora.
“O meu povo é conhecido pelos grafismos e somos divididos por clãs, retratados em animais. O objetivo é transmitir essa ancestralidade nas minhas peças”, explicou.
Outro destaque da produção é a trilha sonora que embala o desfile.
We’e’ena presenteia o público com a musicalidade nativa, os cantos sagrados, nas vozes de Djuena Tikuna, primeira indígena a protagonizar um espetáculo no Teatro Amazonas, e dos anciões do povo Tikuna.
O desfile também será transmitido ao vivo, através do site do Brasil Eco Fashion Week.
Com informações do Amazonas em tempo.