
Na esteira da disputa interna que trava com Rogério Marinho, titular da pasta de Desenvolvimento Regional, o ministro da Economia, Paulo Guedes, atacou nesta quinta-feira (29) a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e prometeu “quebrar” o “cartel” formado pelas maiores instituições financeiras do Brasil.
Guedes acusa a federação de financiar estudos técnicos para Rogério Marinho e, ao mesmo tempo, fazer lobby pelo enfraquecimento do “ministro que está segurando a barra”, sem explicitar se estava falando de si. O objetivo da Febraban, segundo Guedes, seria furar o teto de gastos.
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O ministro tratou do assunto durante audiência no Congresso Nacional. Ele foi convidado para falar junto à comissão que acompanha as medidas de combate à pandemia do coronavírus.
Quando a sessão já alcançava quase três horas de duração, Guedes começou a tratar da necessidade de o país se reindustrializar, o que implicaria em juros mais baixos que dois ou três dígitos. Foi nesse contexto que ele começou a ironizar a suposta proximidade entre Marinho e a Febraban.
Guedes: bancos do Brasil enganam “200 milhões de trouxas”
Primeiro, o ministro da Economia falou que os quatros maiores bancos do Brasil fazem cartel e enganam “200 milhões de trouxas“.
“Um absurdo. O Brasil precisa estar em um dígito sólido, é juros de um dígito sólido, em vez de juros de dois dígitos, que é um absurdo. E nós convivemos com isso por décadas. [..] Nós vamos escapar desse cartel bancário de 200 milhões de trouxas que estão sempre na mão de quatro bancos, quatro empreiteiras, quatro transportadoras. Isso é um absurdo. Isso é falta de competição”, afirmou.
Em seguida, Guedes disse que parte da resistência da sociedade em relação à criação de imposto digital, ideia defendida por ele, vem justamente da união dos bancos.
“Quando você fala em fazer o digitex [imposto digital], aí o banco, na mesma hora, vem correndo através da Febraban, que é o cartório institucionalizado dos bancos. É a Febraban que é paga para isso”, explicou.
“Ministro gastador”
Guedes emendou, então, com a acusação de que a Febraban estaria financiando programas de um “ministro gastador“, em referência indireta a Rogério Marinho, para enfraquecer aqueles que defendem acabar com privilégios no mercado financeiro.
“[A Febraban] não está fazendo nada errado, está fazendo tudo certo, está fazendo tudo certinho: financia até programa de estudo de ministro gastador para ver se enfraquece o ministro que defende acabar com esse privilegiozinho, com esse cartoriozinho. A Febraban financia até estudo de outros ministérios que não têm nada a ver com a atividade dela. Ela financia justamente no lobby de um enfraquecimento de um ministro que está segurando a barra, que não quer deixar esse cartório prosperar”, afirmou para os parlamentares.
De acordo com a revista Veja, a Febraban e o Sistema S teriam oferecido ao ministro do Desenvolvimento Regional a possibilidade de financiar um estudo para viabilizar o programa Pró-Brasil, que está sob a tutela de Rogério Marinho, sem furar o teto de gastos. Esse seria um dos focos da divergência com Guedes.
Guedes: “Vocês estão com saudades do tempo do regime militar”
Na mesma audiência, o ministro da Economia disse que o Brasil não será mais “o paraíso dos rentistas” e ironizou aqueles que esperam que o governo Jair Bolsonaro tenha um “ministro do Planejamento forte“, como na época do regime militar, que ditava o ritmo econômico no País.
“Não olhem para cá esperando ver um grande e superministro do Planejamento dizendo para todo mundo o que vai ter que fazer. Não é isso. Vocês estão com saudades do tempo do regime militar, que tinha um grande ministro do Planejamento planejando o futuro do Brasil? É isso?”, questionou. “Nós estamos indo em direção justamente a uma economia de mercado com uma ação social pública descentralizada do Estado”, concluiu.
Por fim, o ministro disse que o governo não está conformado com a atual relação dívida/PIB. Por isso, a equipe dele está preparando, para os quatro primeiro meses do ano que vem, uma “rolagem mais suave”, “mais tranquila” da dívida pública.
Com informações do Valor Econômico