
Em audiência com os senadores, nesta sexta-feira (25), o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a criticar a Argentina por não querer aceitar as medidas neoliberais que o Brasil tenta impor ao Mercosul. O ministro bolsonarista quer a redução da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul e o fim da regra que exige consenso para a tomada de decisões no bloco. A Argentina se opõe a esses dois pleitos.
Paulo Guedes argumenta que a regra do consenso tem deixado uma porta aberta para que a Argentina barre acordos comerciais bilaterais que o Brasil vem buscando com outros países.
“Ou modernizamos o Mercosul, ou teremos problema. Do jeito que está, nem nos ajuda em um acordo com a União Europeia, nem nos permite fazer os acordos que queremos fazer. Então vamos ter um problema sério aí pela frente, já vou avisando”, afirmou o ministro aos senadores.
Em março, uma reunião do Mercosul foi palco de discussão entre os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, e do Paraguai, Mario Abdo Benítez.
Tarifa Externa Comum
Gudes quer forçar a aprovação da agenda neoliberal de abertura do mercado forçando a redução da TEC em 10% agora e mais 10% no fim do ano. O ministro bolsonarista tem tido dificuldade em seguir com a pauta devido aos acordos que envolvem o bloco.
Essa é a taxa cobrada por todos os países do Mercosul na importação de produtos de fora do bloco. A Argentinaacenou com a redução linear de 10% da TEC de forma imediata por parte do Brasil, e aplicar este corte para 75% das posições tarifárias argentinas, mas só em janeiro de 2022. Sobre a segunda redução proposta pelo Brasil, o país vizinho só aceitaria falar no assunto em 2023.
Guedes nega saída do Brasil do Mercosul
Guedes negou que esteja nos planos do Brasil sair do Mercosul. Ele sinalizou que vai continuar lutando pelo que chama de “modernização” das regras do bloco e pediu a ajuda dos senadores.
“Nós não vamos sair do Mercosul não, mas não vamos estar num Mercosul movido a ideologia. (…) Vamos ter que modernizar o Mercosul. Já conversei com ministro uruguaio, que está conosco, ministro do Paraguai também diz que está conosco”, disse.
Segundo Guedes, a proposta do Brasil não prejudicará a Argentina, que passa por uma crise econômica. “Sabe o que estamos propondo para os argentinos? Dá liberdade para a gente negociar com o Chile, mas ali na frente quando você se recuperar você vem [no acordo comercial]”, explicou. “Eles estão extraordinariamente protecionistas, nós entendemos, mas eles não podem nos vetar por isso. Essa é a ideia da modernização do Mercosul”, resumiu.
Pandemia
A pandemia da covid-19 também foi tema da audiência com os senadores. Os senadores cobram medidas do governo para minimizar os impactos da crise sanitária na vida da população. Guedes confirmou que o auxílio emergencial, previsto para terminar em 31 de julho, será pago até outubro. Segundo ele, a vacinação em massa permitirá a aceleração do crescimento da economia e a queda do desemprego.
“Quem dirige o auxílio emergencial não é a economia, não é sequer a política. É a pandemia. Se a pandemia continuar fora de controle em novembro, vamos ter que renovar de novo o auxílio emergencial [além de outubro], mas não é a expectativa no momento”, disse.
Teto de gastos é “anomalia”, diz Guedes
Nas perguntas, os senadores insistiram na importância da atenção aos mais atingidos pela pandemia. Guedes admitiu que o teto de gastos é uma “anomalia”, mas descartou abandoná-lo. Para ele, uma das soluções é desvinculação de receitas no Orçamento da União.
“Essa pandemia vai deixar sequelados. E sequelados não só do ponto de vista da saúde, mas também do ponto de vista empresarial. Como é que fica o comércio? Estamos tentando atacar todos esses problemas”, disse Guedes.
Meio ambiente
A senadora Kátia Abreu (PP-TO) criticou a escolha do ruralista Joaquim Pereira Leite para o Ministério do Meio Ambiente, nomeado para o cago no lugar de Ricardo Salles. Ela disse temer represálias da Europa e dos Estados Unidos às exportações brasileiras, caso o novo ministro siga a política de seu antecessor, que afrouxou a fiscalização ao desmatamento.
“Esse ministro é da mesma escola do Salles. Não vai gerar confiança nos organismos internacionais e naqueles países com quem precisamos manter uma relação mais do que especial, por conta das nossas exportações. Eu não gostaria de ver uma retaliação americana, ou muito menos o acordo da União Europeia com o Mercosul jogado por terra abaixo. Nós trocamos o Salles por meia dúzia”, criticou.
Diante da declaração, Paulo Guedes especulou que a questão ambiental pode estar sendo usada por outros países como “disfarce” para medidas protecionistas contra o Brasil e voltou a acusar a Argentina de exercer poder de veto, no âmbito do Mercosul, a acordos comerciais.
Com informações do G1 e Agência Senado