
Apesar de afirmar que a tendência da Covid-19 no Brasil é de “estabilização” ou de “queda” em certas regiões, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que com números ainda elevados de mortes e com certas zonas ainda apontando para altas, o país ainda tem “muito a fazer” para conseguir caminhar para uma situação de controle. No mundo, a estimativa é de que a doença possa estar sob controle em “menos de dois anos”.
Durante entrevista coletiva de imprensa em Genebra na última sexta-feira (21), o chefe de operações da OMS, Mike Ryan, disse que a “situação se estabilizou” no Brasil e que a pressão sobre UTIs tem sido menor. Ele reconhece que, em alguns pontos do país, a transmissão continua a ampliar de forma preocupante. Mas que, em geral, há uma “tendência de queda”.
“A situação no Brasil de uma certa forma se estabilizou em termos de número de infecções detectada por semana”, disse. “Certamente as UTIs estão sob uma pressão menor do que estavam antes. Quando olhamos para as incidências pelas regiões, a taxa de transmissão foi reduzida e a aceleração dos casos se estabilizou. Mas há um número elevado de casos, entre 50 mil e 60 mil por dia e um número elevado de mortes”, alertou.
Ryan elogiou os trabalhadores do setor da saúde e das comunidades no país para tentar estabilizar a situação. “A questão é: isso é uma pausa? Pode ser mantida? Há uma queda? Há uma clara tendência de queda em muitas regiões. Mas há locais onde está muito presente e instável em sua transmissão”, insistiu.
Para ele, o Brasil está em um “período difícil”. “Estamos num momento em que as coisas podem parecer melhor. Mas agora exige uma dedicada e forte estratégia para levar transmissão para baixo”, destacou. “O país é grande e há áreas que experimentam altas. Mas, de uma forma geral, há tendência de estabilidade ou de queda. Isso precisa continuar”, destacou.
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“Há muito a fazer”, insistiu, apontando para uma taxa ainda elevada de testes positivos no país. “Mas o padrão está claro. A questão é se pode ser mantido numa tendência de queda nas próximas semanas”, afirmou. Para ele, um êxito no controle da doença no Brasil seria uma vitória para o mundo, já que o país foi um dos que mais contribuiu para os elevados números mundiais.
“O sucesso para o Brasil é o sucesso para o mundo”, declarou Ryan. Segundo o diretor da OMS, países com grandes populações têm um impacto grande no número global. “Se países como o Brasil, EUA e Índia controlam a doença, contribuem para o mundo”, disse. “O impacto é global”.
Prazos para a pandemia
Tedros Ghebreyesus, diretor geral da OMS, foi cauteloso e alertou que “progresso não é vitória” na pandemia.
Segundo ele, países europeus que estão registrando uma volta no número de casos são “alertas” para o restante do mundo. Tedros admitiu que o confinamento indefinido “não é a solução de longo prazo para ninguém”, ainda que tenha sido importante para suprimir a doença. Mas com vacinas e ações globais, a esperança é de que a pandemia seja freada em menos de dois anos, um prazo menor que a Gripe Espanhola.
O mundo conta com mais de 23 milhões de pessoas infectadas e 802 mil mortes, de acordo com dados atualizados neste domingo (23). Mas, de acordo com o chefe da OMS, a maioria da população mundial continua sem imunidade ao vírus.
Para Tedros, ainda que a globalização tenha acelerado a possibilidade de o vírus viajar, o mundo tem a vantagem de contar com inovações. “Temos a tecnologia e o conhecimento para pará-lo”, disse.
“Temos longo caminho para percorrer. Precisamos colocar pressão no vírus. Estamos cansados”, completou Maria van Kerkhove, diretora técnica da OMS. Tedros também destacou que o controle da doença não ocorrerá até que uma vacina apareça. “Ela será vital”, disse.
Mas voltou a ser cauteloso ao indicar que não existem garantias de que ela seja eficiente e que, sozinha, não vai acabar com a pandemia. Para ele, sociedades terão de “ajustar” suas vidas. “Não podemos escolher entre economia e vida. É uma falsa escolha. A pandemia é um alerta de que saúde e economia são inseparáveis”, indicou.
O chefe da OMS apontou que a agência está disposta a trabalhar com governos para ajudar a abrir suas economias e sociedades. Mas, para que isso ocorra, “todos precisam estar envolvidos e avaliar riscos”.
“Vimos o melhor e o pior da humanidade”
Tedros ainda lançou uma dura crítica contra pessoas que estariam usando a pandemia para desviar recursos públicos e promover corrupção inclusive na compra de itens para lidar com a covid-19.
“A corrupção com equipamentos de proteção é assassinato”, disse. “É criminoso e precisa parar”, afirmou. Em vários locais do mundo, casos eclodiram de membros de governos que foram pegos sob a suspeita de aproveitar o comércio de itens como luvas, máscaras e respiradores para desviar recursos.
“Nessa pandemia, vimos o melhor e o pior da humanidade”, completou Ryan.
Com informações da coluna de Jamil Chade, no UOL