
Nos últimos dias, as redes sociais foram tomadas por conteúdos sobre uma “nova tendência” entre adolescentes: o uso de músicas para entrar “na onda” sem precisar usar drogas. Aparentemente, tudo começou quando o vídeo de um garoto ensinando seus seguidores a obter um efeito mental semelhante ao de um alucinógeno viralizou no TikTok.
Afirmada como “sem perigo” e “segura” por usuários das redes sociais, o “I-Doser” vem gerando preocupação na comunidade médica.
Na última segunda-feira (11), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um texto em que alerta para possíveis riscos à saúde que o uso excessivo da “droga digital” pode causar.
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Lançado em 2005 pelo especialista em psicologia de áudio Nick Ashton, o programa de computador, que vem se tornando cada vez mais popular entre adolescentes no Brasil, vende “doses” de ondas sonoras que visam interferir no trabalho cerebral do usuário, simulando efeitos, supostamente, parecidos com o de entorpecentes como cocaína ou maconha.
“Hoje eu vou ensinar para vocês como ficar ‘loucão’ sem droga e sem nada entorpecente, totalmente legalizado. Você só vai precisar de duas coisas: internet e Youtube”, diz um influenciador na plataforma de vídeos TikTok.
Apesar dos depoimentos de muitos usuários relatarem experiências de alucinação, que lembrariam as provenientes do uso de drogas, não há qualquer comprovação científica de que a exposição a esses ruídos causem o mesmo tipo de efeito dos entorpecentes.
Riscos à saúde
Alertados pela onda de jovens e adolescentes utilizando os “áudios-entorpecentes”, pediatras afirmam que o uso excessivo do programa pode gerar dependência psicológica e danos auditivos que podem levar, inclusive, à surdez.
Segundo os especialistas, a estimulação externa exagerada e contínua de ruídos pode provocar alterações na neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de crescer, desenvolver e alterar sua estrutura, podendo afetar as conexões necessárias para o desenvolvimento cerebral e mental saudável.
“Quando o som se torna um ruído alto, estridente, agudo e constante, como sirenes ou o som de explosivos, as pessoas estão sujeitas a desenvolver desde um simples estado de neurotização passageira até lesões irreversíveis no aparelho auditivo, com marcadas consequências, principalmente em crianças e adolescentes, que são sempre mais vulneráveis”, diz um trecho do texto da SBP.
Os especialistas da Sociedade Brasileira de Pediatria listam alguns sintomas e condutas que podem ser identificados a partir do uso exagerado de programas como o I-Doser.
“Dificuldades para perceber sons agudos; presença de zumbidos; transtornos de comunicação, gerando isolamento social, dificuldade de interação em nível familiar, no lazer, na escola, na vida social; alterações no sono ou mesmo alucinações auditivas em pessoas mais sensíveis são alguns exemplos de sintomas auditivos e não auditivos que podem ocorrer e devem ser observados”, diz o comunicado.