
Em meio à pandemia, a inflação em setembro acelerou em todas as faixas de renda, mas foi mais intensa entre os mais pobres, devido ao atual movimento de alimentos mais caros, de maior peso na cesta básica, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Nas famílias com renda mensal domiciliar inferior a R$ 1.650,50, a taxa de inflação passou de 0,38% para 0,98% entre agosto e setembro. Foi a mais forte taxa inflacionária para meses de setembro em 14 anos, afirmou a pesquisadora do instituto Maria Andreia Parente Lameiras.
Para ela, o indicador sinaliza que a inflação entre os mais pobres deve terminar o ano em patamar acima da dos mais ricos.
Inflamação acumulada
Segundo o Ipea, a inflação apurada entre famílias de renda muito baixa acumula alta de 4,3% nos 12 meses até setembro, maior patamar desde maio de 2019 (5%). Já entre as famílias mais ricas, a taxa de inflação foi inferior: 1,8%, no período.
A técnica detalhou que o peso dos alimentos é maior na cesta de produtos entre os mais pobres, com participação de 27% no total do orçamento mensal na faixa de renda mais baixa. “Na faixa de renda mais elevada, os gastos com alimentos representam 13% do orçamento mensal”, disse.
“O problema é que todos os itens que sobem de preço nos alimentos, na pandemia, são todos de cesta básica dos mais pobres, como cereais, arroz e feijão”, completa.
Evolução inflacionária
O peso menor dos alimentos no orçamento dos mais ricos fez a diferença na evolução inflacionária do mês nas famílias de maior poder aquisitivo. Nas seis faixas de renda pesquisadas pelo instituto, nas famílias com renda domiciliar mensal acima de R$ 16.509,66, a taxa de inflação em setembro ficou em 0,2%, ante 0,98% para os mais pobres.
Em contrapartida, o movimento de alimentos mais caros em setembro respondeu por quase 75% da inflação na faixa de renda mais baixa. No mês passado, houve fortes elevações nos preços de arroz (18%); óleo (28%) e leite (6%).
Além disso, no acumulado de janeiro a setembro, a inflação dos alimentos acelerou 9,2%. No período, foram observadas altas expressivas em arroz (41%); feijão (34%); leite (30%); e óleo de soja (51%).
Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro relacionou na última quarta-feira (14), o aumento no preço do arroz ao isolamento social durante a pandemia.
“Fizeram “lockdown”, acabaram com os empregos, aí sobe o preço do arroz, né? Fique em casa, pô. Já pensou se o homem do campo tivesse ficado em casa? Não teria nem a R$ 30, R$ 35 o pacote de 5 kg. Não teria arroz”, afirmou.
O presidente disse que a situação deverá mudar a partir do fim de dezembro, com a colheita de uma “supersafra” do grão.
Com informações do Valor Econômico