Ao contrário do que se pensa, os absorventes, item básico de higiene pessoal da mulher, não são tão acessíveis a todas, e menos ainda para mulheres presas em penitenciárias femininas. Graças à uma iniciativa conjunta entre a apresentadora da CNN Gabriela Prioli, mestre em Direito Penal, e a marca Pantys, duas penitenciária femininas de São Paulo receberão 1.378 calcinhas absorventes.
A doação, de iniciativa da apresentadora, será feita por meio do projeto Nós Mulheres, que arrecada anualmente absorventes e produtos de higiene para mulheres que estão presas na capital paulista. “A ação devolverá a parcela de dignidade retirada ilegalmente de parte dessas mulheres”, afirmou Prioli em comunicado.
A Penitenciária Feminina da Capital, que tem 480 detentas, é uma das unidades beneficiadas. A outra é a CPP Franco da Rocha, com 898 presas. A distribuição nos presídios ficará por conta da Pastoral Carcerária de Santana (SP).
Sem acesso
De acordo com o Observatório das Desigualdades, até o fim de 2017 o Brasil tinha 37.828 detentas. A lei determina que os presídios femininos forneçam um “kit de higiene” mensal, que deve conter, pelo menos, escova e pasta de dentes, sabonete, absorvente íntimo e papel higiênico, mas nem sempre isso acontece.
Segundo Gabriela, o sistema carcerário brasileiro viola, de forma sistemática, direitos humanos fundamentais e a situação é particularmente perversa com as mulheres encarceradas.
“Em virtude da superlotação, a entrega pelo Estado de itens básicos de higiene feminina, como os absorventes, pode ser insuficiente, o que faz com que as mulheres presas dependam em maior medida de doações, que podem, por exemplo, ser feitas por familiares”, disse ela.
Porém, segundo o Correio Braziliense, pesquisas recentes mostram que apenas 20% das mulheres encarceradas recebem visitas.
Conforto e sustentabilidade
Por reunir conforto e sustentabilidade, a Pantys foi escolhida para a doação, já que as calcinhas absorventes da marca são opções mais duráveis e podem ser reutilizadas ao longo de dois anos.
A Pantys é a primeira marca de calcinhas absorventes no mundo. Em 2019, a marca ganhou notoriedade por ter criado um programa de doações do produto para mulheres refugiadas e de aldeias indígenas, meninas que faltavam na escola por não ter acesso ao item, mulheres em situação de vulnerabilidade social, além de profissionais de saúde que estão na linha de frente do Covid-19.
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Para Juliana Garcia, uma das oito fundadoras do projeto Nós Mulheres, é “fantástico” que as detentas possam lavá-las, sem depender de produtos descartáveis. “Com toda certeza a durabilidade irá representar uma longevidade de dignidade e feminilidade para as mulheres presas”, disse ela.
Emily Ewell, sócia-fundadora da Pantys, destaca que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece a pobreza menstrual de mulheres encarceradas como uma situação de saúde pública e direitos humanos, desde 2014. “O sistema carcerário brasileiro trata as mulheres exatamente como trata os homens. A luta diária dessas mulheres é por higiene e dignidade”, afirmou.
Em 2015, ao tentar mapear a população carcerária feminina no país, a jornalista Nana Queiroz, descobriu que as detentas usam miolo de pão, jornal e papel higiênico como absorventes. As condições precárias nas quais as encarceradas sobrevivem, estão relatadas no livro ‘Presos que Menstruam‘, escrito pela jornalista e publicado pela Editora Record, em 2015.
Com informações do Correio Braziliense e revista Marie Claire