As dificuldades enfrentadas pelo sistema educacional para se adaptar à pandemia da Covid-19 e o debate sobre o abismo de desigualdades sociais que se tornou ainda mais evidente após a adoção de medidas como educação a distância em escolas públicas de todo o Brasil. Esse é o cenário desenhado para o novo cenário de desafios impostos ao setor educacional no Brasil que é tema de análise do novo capítulo do Boletim de Política Social nº 28 elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Publicado na sexta-feira (9), o texto também analisa as principais políticas públicas para educação básica e superior em 2019 e 2020. De acordo com os autores do capítulo, as circunstâncias geradas pela pandemia, no ambiente escolar, explicitaram as desigualdades da sociedade brasileira ao revelar, por exemplo, diferenças entre gerações de professores para a utilização de tecnologias da informação, além de alunos que, não raro, residem em ambientes mal adaptados às atividades educacionais, sem a disponibilidade de equipamentos de telefonia móvel, computacionais, ou mesmo de internet.
Estudantes sem acesso à internet
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018 mostram que 5,8 milhões dos estudantes de instituições públicas (da pré-escola à pós-graduação) não tinham acesso domiciliar à internet em banda larga ou 3G/4G para participar efetivamente dessas atividades escolares. O universo de estudantes apontados pela PNAD Contínua representa quase 14% do total de estudantes de instituições públicas de ensino.
Para 15% do total de 5,8 milhões de estudantes, a distribuição de um chip de dados seria suficiente para se conectar à internet, mas, para 55%, nem a distribuição de um equipamento com chip resolveria o problema da conectividade, já que não havia sinal de celular em suas residências.
Educação impactada pela pandemia
O boletim alerta para o fato de a dificuldade em estudar durante o período da pandemia ser uma fonte de ampliação da desigualdade no futuro. As consequências negativas do afastamento das escolas podem ser ampliadas, uma vez que afetam quem já se encontrava em desvantagens de oportunidades por conta de condições econômicas e sociais piores que as de quem acessa o ensino remoto emergencial (ERE).
Um dos pesquisadores responsáveis pela edição do capítulo, Milko Matijascic ressaltou que o texto traz ainda a apresentação de indicadores relativos à disponibilidade de banda larga e equipamentos para a sua utilização com vistas à participação de alunos e professores em aulas remotas.
“Nesta edição é possível encontrar também a descrição dos desafios – para professores, estudantes e seus pais – relativos à adoção de aulas remotas em termos de adaptação, disponibilidade de banda larga, condições de trabalho em suas residências e fornecimento de material de apoio e alimentação para alunos em situação de carência.”
Milko Matijascic
Com informações do Ipea