
O professor de economia Daron Acemoğlu concedeu entrevista para a BBC News Mundo sobre a nova obra dele, The Narrow Corridor (O corredor estreito, em tradução livre). Ele fez uma revisão do grau de liberdade de que gozam os diferentes países da América Latina.
O livro, escrito a quatro mãos com o também economista James A. Robinson, professor da Universidade de Harvard, volta-se para os dados e a história para responder por que alguns países conseguem conquistar a liberdade e a democracia, enquanto outros vivem (ou caem) em tiranias ou autocracias.
Em resposta à questão principal da obra, Acemoğlu aponta que o corredor que leva à democracia é muito estreito, e para os cidadãos um Estado forte é tão perigoso quanto um Estado fraco.
“O Estado é uma parte muito importante na resolução de conflitos, na prestação de serviços públicos ou na ajuda aos desfavorecidos. Mas temos que manter o Estado e suas elites sob controle. E isso é parte do desafio”.
Daron Acemoğlu
Bolsonaro x Maduro
Entre vários temas abordados durante a entrevista, Acemoğlu comentou sobre o governo de Jair Bolsonaro (sem partido). O economista avalia que o Brasil regrediu no quesito democracia e que agora está logo atrás da Venezuela.
“Mas eu também seria negligente se não adicionasse o país que regrediu mais recentemente: o Brasil. Jair Bolsonaro está provavelmente logo atrás de Maduro como o pior líder da América Latina neste momento. O presidente brasileiro fez muito para destruir instituições e polarizar o país, e também causou muitas mortes desnecessárias por seu total desrespeito ao conhecimento científico e a ações médicas durante a crise sanitária da Covid-19.”
O escritor avalia que muitos países na América Latina disputam o título de pior democracia. Ele analisa que se for deixado de lado o Caribe, que inclui Haiti, Jamaica ou Cuba, que têm seus próprios problemas, a Venezuela deve estar no topo desta lista.
Leia também: Em live, Bolsonaro lê suposta carta de suicídio para criticar lockdown
Para Acemoğlu, a Venezuela tornou-se um lugar terrível e distópico sob Hugo Chávez, que na verdade fez mais do que qualquer outro líder no passado recente para destruir suas instituições. Mas, quando se achava que isso era o pior, Nicolás Maduro apareceu.
Ele comenta ainda que El Salvador, Honduras e Guatemala passaram por um período terrível devido ao colapso das instituições estatais e à incapacidade do Estado de fornecer o mínimo de ordem ou serviços públicos.
A Nicarágua, cita, também deve estar nesta lista. Ele relembra que as intervenções dos Estados Unidos e do governo de Daniel Ortega destruíram completamente o potencial do país.