O diário francês Le Monde dedicou uma página de sua edição desta terça-feira (21) para descrever a biografia e os intentos do atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, na política do país, ao lado do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Com o título “Paulo Skaf, o ambicioso chefe dos chefes do estado de São Paulo”, a matéria descreve o caminho trilhado por Skaf para tornar-se governador do estado mais rico do Brasil, com o apoio de Bolsonaro, enquanto “abre ao presidente seu rico livro de endereços e as portas da indústria paulista” em busca de seus propósitos.
A reportagem narra a escalada do empresário de descendência libanesa depois de herdar a modesta oficina de roupas de família, localizada em Pindamonhangaba, a 150 quilômetros de São Paulo, até chegar ao topo da organização que gere os interesses de 130 mil indústrias e 131 sindicatos da região, chamada de o pulmão econômico da América Latina, responsável pela geração de um terço do PIB e da produção industrial do Brasil.
“Berlusconi tropical”
Apelidando-o de “Berlusconi tropical”, a matéria também o descreve como uma águia, mirando seu objetivo, ao lado de Bolsonaro, a quem deixa claro o seu apoio, como membro da extrema-direita do país.
“O novo objetivo de Skaf? Ele está retratado em sua mesa: Jair Bolsonaro, é claro, a quem o ‘patrão’ estende o tapete vermelho há dois anos e abre sua agenda de contatos. No ano passado, o presidente o condecorou com a ‘Ordem do Mérito Industrial’ oficial e, em seguida, criou um ‘Conselho Superior’, reunindo cinquenta dos maiores industriais do país. Em 2019, a Fiesp recebeu, em 40 ocasiões diferentes, a visita de 10 ministros e 14 secretários de Estado, tornando-se, segundo os críticos, uma verdadeira ‘base avançada’ da extrema direita em São Paulo”.
“Esta casa apoia o governo porque sua agenda é nossa! Nossa visão do mundo é liberal e a palavra-chave é adaptação”, assume o “chefe dos pavões”, que diz ter apenas “boas relações institucionais, mas não íntimas” com o presidente brasileiro, descreve o Monde.
Cálculos políticos
“É apenas por cálculo que Skaf apoia Bolsonaro?” Originalmente, “Paulo também não era predestinado para o topo. Nascido em 1955, esse filho migrante libanês (uma diáspora de 12 milhões de pessoas no Brasil) herda a modesta oficina de roupas de família, localizada em Pindamonhangaba, a 150 quilômetros de São Paulo. Na década de 1990, ele fechou o negócio, investiu ações no setor imobiliário e se dedicou à sua verdadeira paixão: política”, narra adiante.
Depois de mudanças na Fiesp e de coordenar uma revolução na Federação, o jornal afirma que a instituição não parece ser o suficiente para ele. “Paulo tem um sonho maior e mais louco: tornar-se governador do estado de São Paulo. Para esse ‘emprego’, ele já se candidatou três vezes, em vão e por todos os meios: candidato à esquerda pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 2010 (quarto, com 4,5% dos votos), depois centrista com o Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) em 2014 (segundo, 21%) e, finalmente, apoiando abertamente Bolsonaro em 2018 (terceiro, com outros 21%)”.
‘Pagar o pato’
“No final, é na oposição que o Skaf é o melhor. Lá, ele mostrou todo a sua genialidade em comunicação. Em 2015, sentindo a maré, migrou para o campo oposto e se tornou uma das principais figuras da oposição ao PT. Para protestar contra o aumento de impostos, a ‘águia’ tinha um enorme patinho amarelo inflável de 20 metros de altura instalado no meio da Avenida Paulista, adornado com o slogan ‘Não vou pagar o pato’”, descreve o diário.
“Oportunista”
Por outro lado, a matéria também o aponta, a partir da visão de especialistas, como “um oportunista”.
“Naquela época, Skaf também tinha uma imensa bandeira brasileira projetada na fachada da Fiesp, em apoio aos manifestantes que exigiam a saída da presidente Dilma Rousseff, deposta em 2016. Atacado pela esquerda, ele foi apoiado por um obscuro nome da extrema direita, com um grande futuro: Jair Bolsonaro”.
“Ele então me defendeu com muita coragem e rigor. Foi assim que nos conhecemos”, lembra Paulo Skaf, que apoiou o líder de extrema direita no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018.
Com esta manifestação, a trajetória do “chefe dos chefes” ganhou um parêntese. “A Fiesp sempre foi a favor de regimes autoritários e conservadores”, lembra Juliana Souza, professora de história econômica da Universidade de São Paulo. Seus líderes eram fascinados pelo fascismo italiano, depois apoiavam a ditadura militar e sempre se opuseram a todos os principais avanços sociais, mesmo os mais essenciais, como a luta contra o trabalho infantil ou férias remuneradas”.
“Skaf se tornou um oportunista, um político puro”, observa o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira. Ele fez da Fiesp uma plataforma a seu serviço. A defesa da indústria brasileira ficou em segundo plano. Ela está inclusive em plena derrocada. Sua participação no PIB caiu de quase 50% na década de 1980 para apenas 20% hoje. Por outro lado, Petrobras, Vale… todos os seus carros-chefe estão em crise, com dívidas e atolados em escândalos financeiros ou ambientais, incapazes de enfrentar a tempestade do coronavírus.
Apoio de Bolsonaro
“Que pena: teimoso, Paulo Skaf conta com o total apoio de Jair Bolsonaro para assumir, em 2022, o Palácio dos Bandeirantes, residência dos governadores de São Paulo. A tarefa não será fácil: considerado duvidoso e corrupto, Skaf não é apreciado por ativistas de extrema-direita. Em maio, uma ação legal foi aberta contra ele, relacionada a 850 mil euros em subornos, supostamente coletados durante sua campanha de 2014.
Acima de tudo, Skaf tem, pela primeira vez, uma oposição que a ele se organizou na Fiesp. “Uma entidade empreendedora que se respeita não pode ser usada como brinquedo (…), não pode ser manipulada por políticos”, trovejou, no início de junho, em um fórum, José Ricardo Roriz Coelho, 61 anos, chefe do sindicato dos plásticos (Abiplast), cujo mandato expira em 2021.
O jornal lembra que “as facas estão sendo afiadas, antecipando esta amarga batalha pelo controle da Federação das Indústrias. Do alto de sua pirâmide de concreto, Paulo Skaf contempla o futuro campo de batalha, pronto para o combate. ‘Eu tenho vontade de servir. Eu amo servir! Eu gosto de pessoas!’. Ele repete como um mantra: águia sorridente, sem pressa de deixar seu ninho”.