
É a primeira vez, em 22 edições, que a Copa do Mundo será realizada no Oriente Médio. Porém, para a comunidade LGBTQIA+ o evento representa um retrocesso. Isso porque o governo do Catar (ou Qatar) anunciou que poderá confiscar as bandeiras com as cores do arco-íris, um dos principais símbolos do movimento.
O governo local alegou que “gays, lésbicas e transexuais” são criminalizados no país e disse que “não pode garantir a segurança de quem for assistir ao torneio”. O anúncio soou como um tipo de ameaça à comunidade, além de evidenciar a intolerância.

“Tomei um susto ao ver o anúncio porque vivemos um momento em que não só o futebol, com as torcidas LGBTQIA+, como a Fórmula 1 e tantos outros esportes tem tomado medidas inclusivas”, avalia Tathiane Aquino de Araújo, secretária nacional do Movimento LGBT Socialista do PSB.
O secretário estadual do LGBT Socialista no Rio Grande do Sul, Thiago Abreu, ressalta que o ato de levantar a bandeira é político. E impedir manifestações políticas em evento de relevância mundial como a copa do mudo é uma forma de desterritorializar a população LGBTQIA+.
“É uma forma desrespeitosa de nos tratar porque no fundo querem dizer: vocês são bem-vindos para gastar dinheiro na Copa do Mundo, mas não podem se manifestar. Mais uma vez a cidadania da população LGBTQIA+ é ceifada nos espaços de poder”, lamenta Thiago.
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Thiago faz referência a declaração do major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari sobre a presença da população LGBT no torneio mundial.
“Você quer demonstrar sua visão sobre o movimento (LGBTQIA+), demonstre-a em uma sociedade onde ela será aceita. Assista ao jogo. Isso é bom. Mas não venha e insulte toda a sociedade por causa disso”, disse em entrevista à agência de notícias Associated Press.
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Para o major, que é diretor do Departamento de Cooperação Internacional e presidente do Comitê Nacional de Contraterrorismo do Ministério do Interior, os casais homoafetivos devem ser “reservados” durante a Copa do Mundo no Catar.
“Reservem o quarto juntos, durmam juntos… Isso é algo que não é da nossa conta. Estamos aqui para administrar o torneio. Não vamos além das coisas pessoais individuais que podem estar acontecendo entre essas pessoas… esse é realmente o conceito. Aqui não podemos mudar as leis. Você não pode mudar a religião por 28 dias de Copa do Mundo”, acrescentou.
Al Ansari foi enfático ao dizer que a medida seria uma forma de proteger os torcedores. “Se ele levantou a bandeira do arco-íris e eu a peguei dele, não é porque eu realmente quero insultá-lo, mas para protegê-lo. Porque se não for eu, alguém ao redor dele pode atacá-lo… Não posso garantir o comportamento de todo o povo”, disse.
Direitos humanos ameaçados

Para Thiago Abreu, a justificativa de proteção usada pelo governo do Catar é um tema espinhoso, já que a legislação daquele país não criminaliza a população LGBT. “Pode ser encarado como uma forma de reduzir dano, com vistas à realidade deles como um território discriminatório. Porém, trata-se de um evento mundial em que não se pode negar a manifestação de todo um segmento da sociedade”, opina.
Ainda em 2020, a diretora de responsabilidade social e educação da FIFA, Joyce Cook, havia dito à AP que “bandeiras arco-íris, camisetas serão bem-vindas no estádio – isso é um fato. Eles entendem muito bem que essa é a nossa postura.”
O presidente-executivo da Copa do Mundo, Nasser Al-Khater, também disse que “respeitaremos” as diretrizes da Fifa sobre as bandeiras do arco-íris.
Durante um congresso da FIFA, realizado no dia 31 de março, a presidenta da Associação Norueguesa de Futebol, Lise Klaveness, criticou a FIFA por sediar a Copa do Mundo no Catar. O país tem histórico de violação de direitos trabalhistas de imigrantes e opressão à comunidade LGBTQIA+.
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“Não há espaço para anfitriões que não podem garantir legalmente a segurança e o respeito das pessoas LGBTQIA+ que vêm a este teatro dos sonhos”, defendeu ela que é a primeira mulher a ocupar a presidência da federação de seu país.
O LGBT Socialista tem debatido o tema e afirma que a comunidade LGBTQIA+ em todo o mundo não vai tolerar tamanha violência. “Nós fizemos uma nota de repúdio e estamos em articulações para debater o tema”, finalizou Tathiane Aquino de Araújo, secretária nacional do Movimento LGBT Socialista do PSB.