A líder indígena mundurucu Alessandra Korap, 36, foi a vencedora da edição 2020 do Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos (EUA). O reconhecimento é um homenagem à luta em defesa dos direitos indígenas e contra propostas do governo federal de legalizar mineração e outras atividades em terras indígenas.
“Como liderança, Alessandra defende os direitos indígenas, principalmente na luta pela demarcação dos territórios indígenas e contra grande projetos que afetam terras indígenas e territórios tradicionais na região do Tapajós [Pará e Mato Grosso]”, diz o comunicado do prêmio.
Por telefone, Korap disse ao jornal Folha de S. Paulo que o prêmio a ajudará a fortalecer o território mundurucu. “A Funai e o próprio presidente [Jair Bolsonaro] negam nosso direito à terra. Os caciques ficaram muito felizes com o prêmio, apesar de tudo o que está acontecendo, das ameaças. É um prêmio coletivo em defesa do território”.
Segundo brasileiro a ganhar
Como resultado é a segunda vez que um brasileiro ganha o prêmio, criado há 37 anos. Em 2001, o advogado Darci Frigo foi homenageado por seu trabalho em favor da reforma agrária. Outros homenageados incluem o ativista de direitos humanos venezuelano Alfredo Romero (2017), crítico da ditadura encabeçada por Nicolás Maduro, e a militante sul-africana Winnie Mandela (1985), ex-mulher de Nelson Mandela.
O prêmio leva o nome do irmão do presidente democrata John Kennedy, morto em 1963. Procurador-geral e senador por Nova York, Robert também foi assassinado, em 1968. O vencedor recebe US$ 30 mil (R$ 166 mil). Todo o dinheiro será usado a fim de fortalecer a luta dos mundurucus, diz Korap.
A cerimônia virtual, em 22 de outubro, contará com a participação de John Kerry, ex-secretário de Estado dos EUA e candidato derrotado à Presidência do Partido Democrata.
Território de Alessandra Korap vive sob ameaças
Com o território dentro da maior reserva aurífera no país e na área de influência da BR-163 (Cuiabá-Santarém) e da BR-230 (Transamazônica), os mundurucus enfrentam invasões de mineradores, de madeireiros e de grileiros, além do atraso na homologação da Terra Indígena (TI) Sawré Muybu, localizada no médio rio Tapajós.
Igualmente, na Terra Indígena Munduruku (baixo Tapajós), já homologada, a “febre do ouro” vem destruindo vários igarapés e rios e provoca crescentes divisões internas entre indígenas contrários e favoráveis à exploração do ouro, atividade ilegal que Bolsonaro promete regularizar.
No entanto, na semana passada, garimpeiros mundurucus e não indígenas fecharam as duas rodovias exigindo a legalização. Uma equipe de TV norte-americana teve seus equipamentos destruídos.
Protesto diante de Rodrigo Maia
Com efeito, no ano passado, Korap ganhou projeção ao participar de diversos protestos e outras iniciativas contrárias aos planos de Bolsonaro. Em uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), bateu várias vezes na mesa ao falar dos problemas do seu povo e criticar as políticas do governo federal.
A atuação de Korap e de outras lideranças mundurucus contrárias à exploração de ouro tem provocado uma série de ameaças. Em novembro, ela denunciou à polícia que invasores levaram documentos, tablet, celular e o cartão de memória de dentro de sua casa, em Santarém (PA), onde estuda direito.
Por fim, sobre as preocupações mais urgentes, a líder mundurucu mencionou o Projeto de Lei (PL) 191, proposta por Bolsonaro, que regulariza mineração e projetos hidrelétricos em terras indígenas.
“Se for aprovado, vai servir para todas as TIs. O Ibama já não dá conta, imagina com o PL. Será a morte dos rios, dos peixes. Todo o povo da Amazônia vai sofrer. Não vai ter floresta em pé. É o PL da morte.”
Com informações da Folha de S.Paulo