
Na madrugada desta quarta-feira (24), aos 81 anos, ex-deputado federal, ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP) e histórico dirigente do PCdoB Haroldo Lima faleceu, após complicações provocadas pela Covid-19.
Leia também: Após 3 mil mortes e colapso na saúde, Governo e Congresso criam Comitê contra Covid-19
Várias lideranças políticas prestaram homenagem a Haroldo e a seus correligionários.
Ele estava internado há duas semanas em um hospital de Salvador (BA). Com o agravamento da doença, foi transferido para a UTI, onde estava intubado desde sexta-feira (19).
Membro da Executiva Nacional do PSB e ex-deputado federal constituinte, Domingos Leonelli (PSB) lamentou a morte do amigo.
“Eu e Haroldo compartilhamos várias vezes a mesma trincheira. Fomos deputados juntos na Constituinte. Nos conhecemos há mais de 50 anos. Meu amigo. Era um dos principais líderes do PCdoB, sempre defendendo a democracia e a soberania nacional. Fará falta”, declarou.
A deputada socialista Lídice da Mata (PSB-BA) também manifestou seu pesar.
“É com muita tristeza que lamento a morte do companheiro de muitas jornadas Haroldo Lima, vítima dessa maldita tragédia. Deputado federal Constituinte, opositor do regime militar, também foi formador de uma geração de jovens amantes da democracia e da liberdade e do Brasil. Tinha grande talento para identificar novos líderes e também a habilidade para orientá-los. Era dono de uma capacidade diferenciada de formular pensamentos para que o Brasil se tornasse uma grande nação. Fará muita falta”, disse.
Líder da bancada do PCdoB, o deputado Renildo Calheiros (PE), afirmou que transformar a dor da perda em luta será um grande desafio.
“O dia se tornou ainda mais triste, porque nós do PCdoB perdemos um dos nossos dirigentes históricos mais aguerridos: o ex-deputado federal, Haroldo Lima, que foi líder da nossa Bancada na Constituinte de 1988. Depois de vencer a ditadura militar, ele enfrentou intensa batalha contra o coronavírus, aos 81 anos, e nos deixou nesta madrugada. Haroldo partiu na véspera do aniversário de 99 anos do PCdoB, legenda que ajudou a construir, onde militou com ousadia e coragem para garantir avanços no Brasil nas últimas décadas. Sua trajetória permanecerá viva em nossas mentes e corações. Agora, nosso desafio é transformar a dor da significativa baixa do campo progressista em luta. O seu legado político estimula que estejamos ainda mais mobilizados em defesa dos interesses dos brasileiros, lutando em favor de vacinas, da economia e da democracia”, disse o líder do PCdoB.
Mais uma vítima do negacionismo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do “companheiro de décadas, grande politico e amigo”.
“Haroldo Lima foi mais uma das quase 300 mil vítimas brasileiras da Covid-19. Mais uma família que perde um ente querido por causa de uma doença nova que causa tantas vítimas no Brasil, hoje mais que em qualquer lugar do mundo, por causa da inépcia e negacionismo do governo federal, que negligenciou por meses as medidas necessárias e a compra de vacinas que o povo brasileiro precisava para enfrentar esse terrível inimigo”, destacou Lula.
O mesmo foi feito pela ex-presidente Dilma Rousseff. Em sua conta no Twitter, reiterou que o avanço da Covid no Brasil é fruto do negacionismo do governo Bolsonaro, que só na terça-feira (23), levou à morte de mais de 3 mil brasileiros.
Defensor da democracia
A presidente nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, afirmou que Haroldo era “esteio fundamental na luta por democracia e justiça social”.
“Haroldo tinha uma força interior enorme, associada a uma generosidade e afetuosidade maiores ainda. Por tudo isso, é tão violenta a dor de sua partida. Uma das muitas lições que ele nos deixa é a fé no que virá. Haroldo carregava a esperança como uma variável permanente”, pontuou.
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), lembrou ainda que Haroldo “conhecia como poucos o tema da energia no Brasil” e que foi um grande defensor da soberania nacional.
No governo Lula, Haroldo, que era engenheiro de formação, assumiu cargo de diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Sua participação no processo de descobrimento do pré-sal e sistematização da sua exploração – como o regime de partilha – foi fundamental. A partir da ANP foi possível contribuir com o fortalecimento da Petrobras como importante instrumento para a soberania nacional e o desenvolvimento econômico e social do país. Participou também do desenvolvimento da política de etanol e biodiesel, para ele um importante patrimônio tecnológico nacional.
Seu conhecimento na área foi essencial nas batalhas travadas pelos correligionários na Câmara em defesa da Petrobras e contra os ataques à estatal à época, encabeçados pelo governo golpista de Michel Temer.
Da prisão ao Parlamento
Figura fundamental na luta contra a ditadura militar, Haroldo sobreviveu ao episódio conhecido como Chacina da Lapa, em São Paulo, onde morreram outros militantes do PCdoB, à época na ilegalidade. Foi preso na ocasião, torturado pelo DOI-Codi. Ficou na prisão até a anistia de agosto de 1979, quando voltou para Salvador, onde seria novamente preso em 1981, quando dirigia lutas populares na capital baiana. Ainda assim permaneceu em diversas frentes de lutas a favor de pautas de interesse social, da liberdade, da democracia, até o último dia da sua vida.
“Minha militância de hoje é dedicada a Haroldo Lima, um grande brasileiro, um companheiro de luta de longuíssima data, que faleceu hoje por complicações da Covid. Foi um guerreiro e resistiu a graves ameaças na luta contra a ditadura”, afirmou Ciro Gomes (PDT) em suas redes sociais.
Após ter sido anistiado, Haroldo continuou sua luta em defesa da democracia e contra a ditadura. Com o PCdoB ainda clandestino, filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e elegeu-se pela Bahia deputado federal em 1982.
Luta e militância de Haroldo Lima
Com a legalização do Partido Comunista do Brasil, em 1985, Haroldo Lima comunicou ao presidente do PMDB, deputado Ulysses Guimarães, a decisão de desligar-se do partido. A bancada do PCdoB seria liderada por ele. Dois dias depois, pronunciou pela primeira vez, depois de 37 anos, um discurso como representante da legenda no Parlamento.
Lembrou o último discurso de um parlamentar comunista, o deputado Maurício Grabois, proferido na Câmara no dia 7 de agosto de 1947, protestando contra a cassação dos mandatos comunistas.
Haroldo Lima seria reeleito pelos baianos por mais quatro mandatos. Além da sua qualidade de tribuno, destacou-se atuando em importantes comissões da Câmara dos Deputados. Foi vice-líder do PMDB e líder da bancada comunista, inclusive na Constituinte, além de integrar as comissões de Sistematização e de Redação, e liderou o bloco que unia o PCdoB e o Partido Socialista Brasileiro (PSB).