Com Julinho Bittencourt
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) fez um alerta no dia 31 de março de 2020 sobre a operadora Prevent Senior, que se tornou alvo de investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado.
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A declaração ocorreu durante uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, na qual Mandetta criticou duramente o hospital Sancta Maggiore, que pertence à operadora.
Mandetta (DEM) resgatou nesta quinta-feira (23), um vídeo de março de 2020, em que teria alertado sobre a Prevent Senior, ao comentar mortes de idosos em hospital da rede. “31 de março de 2020. Alertei. Fui impedido de trabalhar 16 de abril. Quanta barbaridade”, escreveu.
O então ministro da Saúde afirmou que, naquele início de pandemia, havia uma taxa alta de mortes de idosos no hospital, e, inclusive, havia a possibilidade de intervenção nos hospitais da operadora.
Envolto em discordâncias com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) — dentre as quais a resistência dele ao tratamento precoce –, 16 dias depois dessa coletiva Mandetta deixou o Ministério da Saúde.
Na ocasião, o hospital da Prevent Senior havia registrado 80 das 136 mortes registradas até então em São Paulo. “Não tem que proibir o hospital, o hospital existe e tem todos esses idosos lá dentro ao mesmo tempo e já se constituiu um ambiente de transmissão elevado lá dentro”, diz.
Naquela época, quase 90% das vítimas da doença no país eram de pessoas com mais de 60 anos.
Gabinete paralelo
Na sequência da saída de Mandetta da pasta, médicos que integrariam o chamado “gabinete paralelo”, como Nise Yamaguchi e Paulo Zanotto, tornam-se alguns dos principais conselheiros do Palácio do Planalto em ações para o combate à pandemia de Covid-19, justamente porque tinham uma visão convergente em relação ao tratamento precoce.
Além disso, no dia 16 de abril — no mesmo dia em que Mandetta anuncia que foi demitido do ministério –, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou o parecer que autorizou médicos a prescreverem a cloroquina e a hidroxicloroquina a pacientes com sintomas leves e moderados da Covid-19, além do uso em quadros críticos, que já vinha sendo adotado.
Denúncias de horror
Dossiê recebido pela CPI da Pandemia com base em denúncias feitos por médicos que trabalhavam junto à operadora de Saúde dá conta de que a Prevent Senior teria ocultado mortes de pacientes com e sem o diagnóstico de Covid-19 que participaram de estudos sem base científica feitos para apontar uma suposta eficácia dos remédios do “kit covid”, como a hidroxicloroquina e a azitromicina.
O experimento, que tem sido comparado a práticas nazistas, foi realizado no início da pandemia do coronavírus, no ano passado, e não obteve autorização do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
As informações levantadas pelos senadores da CPI são aterradoras: a empresa teria ocultado 7 das 9 mortes de pacientes que foram submetidos ao experimento e há relatos de familiares de algumas dessas pessoas de que o plano de saúde não as informou sobre o procedimento que estava sendo adotado.
Além disso, um dos pacientes submetidos ao estudo que morreu, segundo a família, tinha problemas cardíacos e era hipertenso, fatores que impediriam a administração da cloroquina por conta de seus efeitos colaterais.
E não para por aí. Para comprovar a “eficácia” do protocolo com remédios inúteis para tratar a Covid, a Prevent Senior teria alterado prontuários médicos, como foi o caso da mãe do empresário Luciano Hang, que morreu de Covid após ter sido submetida a tratamento com o “kit Covid”. Além disso, médicos denunciam que eram obrigados por superiores a prescreverem esses medicamentos.
Com informações da CNN