Alheio a apelos de gestores, alunos e especialistas, que temem o aumento da desigualdade no acesso às universidades, o ministro da Educação, Abraham Weintraub decidiu manter a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020. Mesmo com aulas presenciais suspensas em todo o país por decretos estaduais e municipais há quase dois meses por causa da pandemia do coronavírus, as inscrições foram abertas nesta segunda-feira (11), e parlamentares não pouparam críticas à decisão.
“No Brasil, apenas 36% dos alunos da rede pública têm acesso à internet em casa. Nas classes D e E, seis a cada 10 alunos não têm sequer computador. O adiamento do Enem é necessário para que nenhum estudante seja prejudicado pela pandemia, principalmente os mais carentes”, defendeu a senadora Leila Barros (PSB-DF), afirmando que manter o calendário atual “é apostar no crescimento da desigualdade”.
Desigualdade
A partir dos perfis oficiais do Partido, o PDT também divulgou posicionamento com razões pelas quais a sigla é contra a manutenção das datas do exame. Entre as defesas estão a de que o Brasil “possui um grande contraste no acesso à internet no Brasil. 59% dos lares das classes C e D, não têm acesso à rede. Na zona rural a internet chega a apenas 44% dos domicílios. Esses estudantes, a quem a internet não chega, não estão apenas sem aulas. Muitos também não tem livros. Os que tem, precisarão aprender sozinhos matérias com alto grau de complexidade como física e química”.
Para o PDT, Weintraub “está promovendo o exame mais desigual dos últimos anos”.
Para ricos
Deputada federal e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann afirmou que o intuito da decisão é a segregação de classes. “Começam hoje as inscrições para o Enem 2020, mas tem estudante que sequer tem internet para fazer inscrição, quem dirá para estudar para prova na quarentena. Mesmo assim, o governo e o MEC [Ministério da Educação] não adiaram a prova. Eles não querem o pobre na universidade pública, só o rico!”, declarou.
#AdiaEnem
Líder do PSOL na Câmara, a deputada federal Fernanda Melchionna também demonstrou indignação com a decisão em um post no Twitter. “O Enem 2020 tem que ser adiado. Ensino médio no país está sem aulas e metade dos alunos não pode ter aulas de forma remota. Manter o ENEM é uma tentativa de elitizar ainda mais a educação brasileira #AdiaEnem e #foraweintraub”.
Reproduzindo a propaganda oficial do Governo, o presidente da Comissão de Educação da Câmara, deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) aderiu à campanha que pede o adiamento das provas. “Nunca vi uma propaganda do governo tão absurda e desconectada da realidade. #AdiaEnem”, declarou.
Proposta na Câmara
Outra integrante da Comissão a se manifestar foi a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA). Ela definiu como ‘absurda’ a decisão de dar continuidade ao calendário. ’“É um absurdo considerar que os estudantes estejam em iguais condições nessa situação, muitos deles não tem acesso às ferramentas virtuais para continuar os estudos em casa”, declarou.
Em abril, a parlamentar baiana chegou a protocolar, junto à Câmara, um projeto de decreto legislativo para suspender os efeitos dos editais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) contra o cronograma de atividades da realização do exame.
“É urgente a suspensão destes editais inoportunos e irresponsáveis, para que o cronograma do Enem possa ser adiado até que, passada a emergência sanitária decorrente do coronavírus, possa ser construída uma solução conjunta entre a rede de educação básica e a rede de ensino superior”, disse. A deputada segue buscando assinaturas para que a matéria seja votada com urgência pelo Plenário da Casa.