
Por Marcelo Hailer
A relação do governo Bolsonaro com a ex-chanceler da Alemanha Angela Merkel já era ruim, mas, com o novo governo liderado por Olaf Scholz, a situação deve se tornar ainda mais crítica, principalmente nas questões ambientais.
Em entrevista ao jornal O Globo, o embaixador da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, afirma que a nova coalizão, que tem Os Verdes em sua composição, não será tolerante com as mentiras de Bolsonaro e que, caso a situação não mude, consequências, como veto a produtos, podem se tornar reais tanto no parlamento alemão quanto no europeu e afirmou que, com exceção da extrema direita, a preservação ambiental é uma agenda de todos os campos ideológicos.
“O governo anterior já se interessava bastante por essa questão (ambiental), mas o novo governo vai se interessar ainda mais, porque nós temos agora o partido Os Verdes, os social-democratas e os liberais, que têm uma forte agenda verde. Existe um consenso na Alemanha e é importante compreender que esses temas não são da esquerda ou de uma direção política em especial, mas sim de todos os partidos, à exceção da extrema direita”, Heiko Thoms
Em outro momento, Thoms afirma que as mentiras de Bolsonaro não serão toleradas. O embaixador refere-se especificamente ao desmatamento no Brasil e revela que fontes do governo haviam dito que ele tinha diminuído 5%, mas, a medição do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que foi divulgado no último dia 18, revelou outro cenário.
“O desmatamento existe, e é alto. Um crescimento de 22% é significativo. E, antes da publicação, nós ouvimos – não oficialmente, mas falamos muito com os especialistas do governo – que haveria uma queda de 5%. E nós acreditamos nisso. E, de repente, ficamos sabendo que houve um crescimento de 22%. Essa foi uma grande surpresa negativa”, criticou.
“Nós temos os fatos, e os fatos são sempre muito importantes, mas as percepções políticas também são importantes. E, em nossa opinião, um grupo relativamente pequeno de pessoas que desmatam prejudica os interesses dos outros produtores no Brasil. E nós queremos trabalhar com os atores brasileiros sérios, com o governo, com os estados, para remover esse obstáculo”. Heiko Thoms
O embaixador também enviou um recado ao governo Bolsonaro sobre as novas medidas da União Europeia e do novo governo alemão, em que produtos brasileiros podem ser vetados.
“Estou convicto de que os brasileiros deviam se preocupar, porque é uma questão muito séria, e vamos conseguir aprovar a matéria no Parlamento (veto a produtos oriundos de áreas desmatadas). Esse projeto, neste momento, está sendo discutido em nível muito claro pela União Europeia e essa direção não vai mudar”. Heiko Thoms
Para que tal relação mude e os produtos brasileiros não sejam vetados, o embaixador afirma que o governo Bolsonaro precisa atuar com transparência sobre as origens das mercadorias.
“Há um mal-entendido no sentido de que os investidores e os consumidores de fora do Brasil sabem diferenciar entre Amazônia, Pantanal e Mata Atlântica. Ele não sabe se a carne, por exemplo, vem de uma área desmatada, porque as cadeias produtivas não são muito claras, são sempre obscuras. O Brasil poderia trabalhar com a União Europeia em cadeias produtivas mais transparentes”, declarou o embaixador da Alemanha no Brasil.