O presidente Jair Bolsonaro (PL) fará uma visita oficial ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou, de 14 a 17 de fevereiro. A viagem ocorre justamente no momento em que as maiores potências do Ocidente trabalham, de forma coordenada, para isolar Putin com pressões diplomáticas, sanções econômicas e ameaças militares.
A pressão das potências ocidentais sobre Putin é uma resposta ao fato de ele ter posicionado suas tropas na fronteira com a vizinha Ucrânia, em novembro de 2021, em uma coreografia militar que está sendo interpretada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) como prenúncio da repetição de algo que ocorreu oito anos antes, em 2014, quando a Rússia tomou o território ucraniano da Crimeia, a despeito da condenação internacional.
A visita de Bolsonaro ocorre no momento mais conturbado das relações entre a Rússia e as potências ocidentais desde então, e coloca o Brasil numa posição ambígua nesse impasse.
“Não é apenas conhecer a Rússia. Nós vamos com uma equipe de peso: Paulo Guedes (ministro da Economia), Braga Neto, (ministro da Defesa), Tereza Cristina (ministra da Agricultura), entre outros, tratar de negócios para o Brasil. Ninguém gosta da gente porque nós somos bonzinhos, gostam porque têm interesse na gente e nós temos interesses neles também”, disse Bolsonaro em um evento no Planalto no começo de dezembro.
Perguntado no último dia 19 se sua visita ao país poderia ser lida como um apoio no impasse entre o país russo e a Otan, Bolsonaro negou.
“Não, não. O Itamaraty vê essa questão aí. A gente não está saindo do Brasil para criar problemas, animosidades. Sabemos do problema com a Rússia. Sabemos disso aí, tá? A Rússia é um parceiro nosso. Temos compras de fertilizante, por exemplo, potássio, entre outras coisas. Então, é uma viagem que interessa para nós e para eles”, justificou.
EUA pede que Bolsonaro não vá à Rússia
O governo dos Estados Unidos tem intercedido junto ao brasileiro para que seja cancelada a viagem de Bolsonaro à Moscou, segundo noticiaram veículos da imprensa brasileira.
De acordo com o jornal O Globo, representantes da Casa Branca argumentaram que o momento não é adequado para o encontro entre Bolsonaro e o presidente russo, Vladimir Putin, pois poderia ser interpretado como a tomada de um lado na crise Rússia-Ucrânia pelo Brasil.
Ao jornal, uma fonte do governo brasileiro afirmou que essa não será a mensagem da visita. “Desejamos o entendimento diplomático entre Rússia e Ucrânia, dois países com os quais temos ótimas relações”, disse.
De acordo apuração da Folha de S.Paulo e do Poder360, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, manifestou preocupações quanto a essa possível mensagem simbólica da visita de Bolsonaro em conversa telefônica com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos França, no último domingo (30).
Segundo o Poder360, França informou a Blinken que a viagem de Bolsonaro está mantida e que o Brasil segue a favor de solução diplomática duradoura para as tensões.
Leia também: EUA exige que funcionários do governo e suas famílias deixem Belarus
Em 10 de janeiro – dias depois de o Brasil assumir uma vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU, com mandato de dois anos –, Blinken havia pedido ao governo Bolsonaro uma reposta “forte e unida” contra as “novas agressões da Rússia” à Ucrânia.
No telefonema deste domingo, além de manifestar apreensão em relação à ida de Bolsonaro a Moscou, Blinken teria pedido que o Brasil votasse nesta segunda a favor da realização de uma reunião no Conselho de Segurança da ONU sobre a situação da Ucrânia – o que o Brasil acabou fazendo.
Na reunião, Ronaldo Costa Filho, embaixador do Brasil na ONU, tentou manter uma posição neutra e apelou ao diálogo entre as partes envolvidas nas atuais tensões em torno da Ucrânia.
“A proibição do uso da força e a resolução pacífica de disputas e o princípio de soberania e integridade territorial e a proteção de direitos humanos são pilares do nosso sistema coletivo de segurança”, afirmou.
À Folha, a embaixada americana em Brasília afirmou que “EUA, Brasil e outras nações democráticas têm a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, além de reforçar essa mensagem à Rússia em toda oportunidade”.
Putin é ‘conservador’, diz Bolsonaro
Em conversa com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada, em janeiro, Bolsonaro afirmou que irá à Rússia “atrás de melhores entendimentos, melhores relações comerciais”.
Questionado por um apoiador se o presidente russo, Vladimir Putin, seria conservador e “gente da gente”, Bolsonaro afirmou “ele é conservador, sim”. O homem então pergunta como que Putin poderia conciliar o “comunismo” com o conservadorismo, mas o presidente apenas declarou suas intenções com a viagem. “Eu vou estar o mês que vem lá, eu vou atrás de melhores entendimentos, melhores relações comerciais”, afirmou. Bolsonaro então completou: “o mundo todo é simpático à gente”.
Encontro com ultradireita
De acordo com fontes do governo, na quarta-feira (17), a expectativa é de que o presidente brasileiro visite a Hungria e a Polônia, países liderados por políticos de ultra-direita – Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, e Andrzej Duda, presidente da Polônia.
O encontro com premiê húngaro está previsto para acontecer pouco mais de um mês e meio antes das eleições no país. Viktor Orbán é candidato à reeleição.