As Forças Armadas têm dado demonstrações públicas de afastamento do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). O que seria também um gesto dos militares a outros candidatos nas eleições de outubro, especialmente, o ex-presidente Lula (PT), que aparece como favorito em todas as pesquisas de intenção de voto.
Oficiais-generais ouvidos pela Folha avaliam que os gestos tirariam a sombra de um golpe militar contra o petista, em caso de vitória.
A determinação do Exército para que os 67 exercícios militares previstos para 2022 sejam encerrados até setembro para liberar a tropa para agir em caso de desordem nas eleições ou a uma tentativa de repetição do que houve nos Estados Unidos, com a invasão do Capitólio, incentivada pelo ex-presidente Donald Trump ao perder as eleições, é um dos exemplos.
Outro claro recado enviado pelo Exército a Bolsonaro foi a determinação para que militares se vacinem contra a covid-19, usem máscaras e a proibição de fake news. Diretrizes que vão no sentido totalmente oposto do que faz e defende Bolsonaro.
Somado a isso, a reação contundente do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o almirante Antonio Barra Torres, às ilações de Bolsonaro de que a agência teria interesses obscuros ao liberar a vacinação de crianças contra a covid.
Barra Torres, que teve o aval do comando da Marinha, cobrou que Bolsonaro se retratasse das acusações de corrupção ou que determinasse a investigação das suspeitas que levantou.
Bolsonaro, como sempre, recuou das acusações para, em seguida, manter as suspeitas vagas e sem indícios que as justifiquem.
Os acenos públicos das Forças mostram o distanciamento das Forças do atual ocupante do Palácio do Planalto e sua posição neutra diante do vencedor do próximo pleito.
Militares focam em Lula
Generais, almirantes e brigadeiros ouvidos pelo jornal afirmam que o foco é Lula, apesar de não haver diálogo no momento.
Apesar do sentimento de militares de que o petista teria sido leniente com a corrupção, são pragmáticos na busca por isenção diante do favoritismo de Lula.
E recordam os tempos de “vacas gordas” do petista na presidência. Citam a bonança internacional das commodities e uma gestão fiscal responsável que permitiram o reequipamento das Forças com programas como o de submarinos, de caças e de blindados.
Pessoas próximas a Lula afirmam que ainda há certa reserva ao Exército por conta da pressão exercida pelo comandante Eduardo Villas Bôas, que o Supremo Tribunal Federal (STF) a não conceder habeas corpus que tiraria Lula da prisão, em 2018.
Lula, porém, estaria compreendendo os acenos públicos e não haveria maiores óbices com as Forças em caso de vitória.
O que reforça ainda mais o isolamento de Bolsonaro, refletido também pelas pesquisas de intenção de voto. O atual presidente amarga 57% de rejeição.