Apesar do aumento dos casos e internações por Covid-19, o Ministério da Saúde avalia que não é hora de endurecer restrições para o controle da pandemia, como recomendar o isolamento social, ou reforçar a testagem no País. Segundo reportagem do Estadão, o alerta só ocorrerá quando houver alta consistente no número de mortes.
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Os secretários de Estados e municípios, porém, já aumentaram a pressão para que o ministério ajude a controlar a pandemia. A preocupação foi levada à pasta principalmente porque o estado de calamidade que garantiu mais verba para a Saúde vai até 31 de dezembro e no Orçamento de 2021 não há previsão de dinheiro extra para financiar o combate à pandemia.
A postura adotada pela Ministério da Saúde, que é comandado pelo general Eduardo Pazuello, é influenciada diretamente pelo discurso anti isolamento do presidente Jair Bolsonaro. Na prática, a pasta nem sequer estimula este debate, mas afirma que cumpriu com a sua parte ao entregar respiradores, custear leitos e repassar recursos para compra de insumos.
O ministério, porém, abandonou também as metas essenciais para o controle da pandemia. Entre elas a realização de 24,2 milhões de testes PCR – considerado “padrão ouro” – no Sistema Único de Saúde (SUS) até dezembro. A rede pública fez até agora só 4,8 milhões destes exames, ou seja, cerca de 20% do previsto.
Ação tardia do Ministério da Saúde
Para especialistas, a estratégia do ministério pode descontrolar ainda mais a pandemia no Brasil. “Será uma ação tardia, se deixar para agir após o aumento de óbitos. Este é o último dado que vai registrar alta. São semanas até se traduzir em aumento nos óbitos”, afirmou Marcelo Gomes, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenador da plataforma InfoGripe.
Para o sanitarista, professor da USP e primeiro presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina, a estratégia do ministério mostra “despreparo” de quem “não entende de epidemiologia”. “Para variar, a falta de liderança do ministério acaba levando a esse desastre.”
Pazuello, no entanto, argumenta que o tratamento do coronavírus avançou, mesmo sem cura ou vacina. Na gestão do militar, a Saúde cedeu a pressões de Bolsonaro e passou a recomendar o uso da hidroxicloroquina, contrariando a Organização Mundial da Saúde (OMS) e entidades como a Sociedade Brasileira de Infectologia.
Com informações do Estadão