A disputa pela hegemonia dos mercados faz com que os Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia – com interesse no espaço cada vez maior ocupado pela China – façam inúmeras tentativas de fazer com o que mundo se volte contra o gigante asiático. Os argumentos mudam ao longo do tempo, mas intuito econômico continua o mesmo.
Essa é a síntese do que observa Jones Manoel, historiador, youtuber, podcaster e colunista do Socialismo Criativo. Ele participou da primeira edição do novo quadro de entrevistas Moda e Política, promovido pelo site. O tema da primeira live foi “A causa uigur na China e a moda”.
As entrevistas são conduzidas pela secretária de redação do site Socialismo Criativo, Iara Vidal. A jornalista é pesquisadora independente dos encontros da moda com a política e representa o movimento Fashion Revolution em Brasília. Ela é ativista para que a produção da moda seja justa, ética e consciente. E que preze pelas pessoas e pela natureza acima do lucro.
“As pessoas se surpreendem com esse encontro da moda com a política. Moda é um caleidoscópio. É um modo de produção capitalista. Embora a gente tenha sempre se vestido, a gente só tem um sistema de moda porque tem o capitalismo”, explica.
China produz 16% da produção mundial de algodão
A China é responsável por 16% da produção mundial de algodão. Grande parte desse cultivo é feito na região autônoma de Xinjiang, localizada na região noroeste do país e onde a maioria da população é da etnia uigur, uma minoria muçulmana.
Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia acusam o governo chinês de violar os direitos humanos contra uigures, com acusações que vão de trabalho forçado a genocídio. A China nega.
O algodão é a fibra natural mais utilizada pela indústria têxtil no mundo. Além de ser responsável por quase um quinto de toda a produção algodoeira mundial, a China também é um grande polo de moda. Em plena pandemia, em 2020, foi o único país onde o luxo manteve o crescimento.
Em agosto de 2018 Gay McDougall, então membro do departamento de direitos humanos da ONU, afirmou que havia dois milhões de uigures em campos de concentração em Xinjiang. A afirmação não foi seguida por nenhuma prova, física ou material.
Sequência de histórias mal contadas
Jones Manoel observa que, historicamente, a estratégia dos Estados Unidos é sempre a de tentar dividir os países os quais busca ter algum tipo de domínio. Foi assim com a União Soviética, com a Itália após a Segunda Guerra Mundial, com Vietnã, com a Coreia e com a própria China.
“Qual o grande problema? Muito tem se comentado como a China se saiu bem na crise do coronavírus. A China se saiu muito bem também da crise econômica de 2008 e enterrou a Europa e EUA. Em 2009, já teve crescimento econômico significativo e investiu muito em infraestrutura. Então, a China se saiu muito bem e foi num processo crescente também de domínio tecnológico e de consenso interno”, observa Manoel.
O que mantém a política de ataques contra o país asiático. Porém, as últimas tentativas de aplicar a tática de balcanização – que é separar ou fragmentar regiões ou países – não foram bem sucedidas.
“Pesquisa Harvard afirma que 92% das pessoas apoiam o Partido Comunista Chinês e 96% da população acham que sua vida vai melhorar daqui para frente”, destaca o historiador.
Desinformação e falsas acusações contra a China
Com isso, explica Manoel, houve a necessidade de construir uma narrativa para tentar conter o crescimento chinês.
“Tentaram por muito tempo imprimir a narrativa de que a China estava tentando recolonizar a África, no começo da década passada. Só que essa narrativa simplesmente não pegou, até porque liberal também não se sente à vontade para falar contra o liberalismo. Aí, investiram muito naquela política de discurso da China como estado totalitário. De que é todo mundo vigiado, que é câmera para todo lado. Apelaram para um discurso classe média de liberdade abstrata”, afirmou.
No que Iara Vidal lembrou o real controle auto imposto no ocidente. “Todo mundo anda com um chip no bolso. O Google sabe onde a gente tá, o que faz. Só que são as corporações e na China é o Estado”, ressalta.
No final de 2018, veio o discurso de genocídio. A história, conta Manoel, começou com um relatório atribuído à Organização das Nações Unidas (ONU) sobre um suposto “genocídio cultural”, que passou meio batido na época.
Teses infundadas sobre a China
Porém, uma tese obscura passou a circular acusando a China de genocídio em Xinjiang. As provas seriam fotos em que presos foram fotografados durante momento de oração do Ramadã, em que todos estavam ajoelhados. O que foi falsamente atribuído como sendo um campo de concentração.
O Ramadã é uma celebração muçulmana, maioria religiosa na região Xinjiang, que não por coincidência concentra a maior parte da produção de algodão na China. E as notícias foram reproduzidas por veículos de imprensa, como a BBC.
“Não há genocídio. Primeiro porque a população continua crescendo e, segundo, ninguém faz um genocídio sem provas. Ninguém mata 2 milhões de pessoas e esconde isso de todo mundo”
Jones Manoel
EUA barraram inspeção da ONU
“O governo chinês chamou o comissariado da ONU para fazer uma inspeção em Xinjiang. Os EUA barraram e disseram que a visita não seria autônoma”, afirma Manoel. E completa que nenhum país muçulmano referenda as acusações ocidentais de genocídio de muçulmanos na China.
Por isso, a questão inevitável que surge é como combater essa desinformação?
Para o historiador é preciso estar sempre alerta às informações consumidas. Checar notícias em diversas fontes e manter um olhar crítico sobre o discurso reproduzido.
“A gente vive na época mais imagética da história. Fazer qualquer coisa sem circular fotos e vídeos é muito difícil. A gente tem que ter noção da proporção das coisas. É preciso pensar as informações. A gente tem que aprender a ler a notícia”, defende.
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Confira a íntegra da live