O ministro das Comunicações, Fábio Faria, admitiu a investidores nesta quinta-feira (6) que há uma divergência entre ele e o ministro Paulo Guedes (Economia) em relação à modelagem do leilão da rede 5G no Brasil, previsto para o primeiro semestre de 2021.
Em uma videoconferência com clientes da corretora XP Investimentos, Faria afirmou defender que o leilão seja, em boa parte, não arrecadatório, priorizando investimentos em internet, enquanto o titular da Economia quer um certame que priorize a arrecadação.
“Paulo Guedes sempre tem [um peso nessa discussão]. Até porque ele vai querer um leilão arrecadatório. E eu vou defender que seja pelo menos meio a meio. Já começamos a debater isso. A briga da Economia com Comunicações vai ocorrer em relação a isso”, afirmou Faria.
Ao defender seu ponto de vista, o ministro das Comunicações afirmou que a pandemia mostrou que a internet se tornou um serviço essencial e que é preciso que se faça investimentos no setor.
“Tivemos um aumento de 30% do tráfego e suportou. Esse leilão 5G será muito importante. Porque não é a mudança do 3G para o 4G, que ocorreu, que foi só aumento de velocidade. O 5G traz um novo mundo, traz novos modelos de negócios, novas profissões, muda tudo”, disse o ministro.
Disputa geopolítica
Faria afirmou que pretende fazer o leilão até maio do ano que vem e está dialogando com os três maiores players do ramo: a finlandesa Nokia, a sueca Ericsson e a chinesa Huawei. O ministro conversou com representantes das duas primeiras nesta semana e disse que pretende receber também interlocutores da Huawei.
A empresa chinesa conta com a oposição da ala ideológica do governo – inclusive de filhos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) -, que defende o alinhamento do Brasil com os Estados Unidos, país que trava uma guerra comercial com a China e se opõe frontalmente à Huawei.
Faria disse que o Ministério das Comunicações não será palco de uma “disputa geopolítica” e que irá subsidiar Bolsonaro com informações. No entanto, admitiu que o debate técnico pode perder para a pressão ideológica.
“Temos também que entender que eu estou aqui ministro indicado pelo presidente. Ele que comanda o processo. Em todos os países em que está acontecendo o leilão 5G, os presidentes da República estão tratando pessoalmente desse tema. No final, quem vai decidir é ele. É uma decisão do presidente. E, obviamente, ele vai ouvir minha opinião. Serei escutado em relação a isso.”
Faria afirmou que é importante isolar esse debate de outras áreas do governo para que não haja prejuízo em setores como a agricultura, já que a China é um dos principais parceiros comerciais do Brasil.
“É importante que cada tema fique no seu lugar, que esse debate do 5G seja tratado dentro da área de telecomunicações, que não envolva o resto do país. Esse cuidado que estou tendo “, disse o ministro.
Com informações da Folha de S. Paulo