
O Líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), comentou sobre o aumento na conta de luz que será causado pela crise energética. Uma reportagem publicada no jornal O Globo desta segunda-feira (27) noticia que o governo decidiu, para afastar o risco de apagão em ano eleitoral, concentrar sua estratégia na expansão da energia termelétrica, em vez de apostar em outras fontes renováveis. Como consequência, até 2025, pelo menos, a matriz energética terá uma participação maior de fontes mais poluentes, e o consumidor enfrentará custos mais elevados na conta de luz.
Molon frisou em seu post que esta medida demonstra que descaso do governo Bolsonaro vai prejudicar a população, deixando o consumo de energia elétrica mais caro, e que esta decisão faz parte de uma gama de “desastres” provocados por esta gestão.
Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), estudos e simulações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que o acionamento das térmicas entre janeiro e novembro deste ano custará R$ 13,1 bilhões. Isso será compensado na conta de luz.
E novos negócios estão surgindo: até 2026, estão previstos investimentos de R$ 12 bilhões em usinas térmicas no país.
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Em outubro, o MME fará um leilão, em processo simplificado, para compra de adicional de energia, com prazo previsto para abril de 2022 a dezembro de 2025 e possibilidade de entrega antecipada. Isso é necessário para recompor o nível dos reservatórios das hidrelétricas. Mas o impacto na conta de luz deverá ser ainda maior.
Poderão participar do leilão térmicas a gás com custo de até R$ 750 por megawatt-hora (MWh) e a óleo diesel e óleo combustível de até R$ 1 mil/MWh. A fatura sairá mais cara do que os leilões anteriores, mas o governo argumenta que o “prazo desafiador” para entrada em operação resulta em custo mais alto. E aposta que ampliar a concorrência possa segurar os preços.
Fatia na matriz já chega a 21%
Em agosto, para efeito de comparação, o preço de referência do leilão para térmicas foi de R$ 266,86/MWh. No Ambiente de Contratação Regulada (ACR), onde as compras se dão por leilões, despacho do ano passado definia o valor médio do ACR em R$ 253,50/MWh para 2021. Fontes renováveis, como eólica e solar, têm preço médio de R$ 150/MWh.
A estratégia vai manter o patamar da produção de energia termelétrica acima da casa dos 20% por mais tempo. Diogo Lisbona, pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ceri), lembra que a participação das termelétricas começou a avançar após o racionamento de 2001.
Pelos dez anos seguintes, essa produção esteve no patamar de 9%, subindo a partir de 2012. Este ano, a média está em 21%.
“Neste momento de crise, as termelétricas chegam a responder por 32% da geração, e as hidrelétricas estão no menor patamar, por volta de 50%”, diz Lisbona.
Com isso, os investimentos em usinas térmicas vêm crescendo. Pelo menos 19 unidades novas estão sendo construídas, e outras estão sendo reformadas, religadas ou adiantadas. Só as usinas em construção vão adicionar 5.080MW ao Sistema Interligado Nacional até 2026.
“O parque térmico brasileiro é antigo, mas é uma alternativa fundamental com a crise hídrica e a intermitência das fontes solar e eólica. A despeito de ser uma energia mais cara, ela dá segurança e garantia de suprimento ao sistema”, diz Gustavo Carvalho, gerente de Preços e Estudos de Mercado da Thymos, consultoria especializada em energia.
R$ 4 bi para usinas antigas
Até 2026, estão previstos investimentos de R$ 12 bilhões em usinas térmicas no país. Desse total, pelo menos R$ 4 bilhões serão utilizados no retrofit de unidades antigas. A maioria das novas usinas térmicas vai operar com gás, especialmente do pré-sal, como fonte de energia.
Luiz Barata, consultor do Instituto Clima e Sociedade (iCS), ressalta que é possível remodelar usinas térmicas antigas, a óleo e carvão, para gás, para tentar baixar o custo. Mas afirma que, com os preços dos novos leilões, é difícil conter a escalada do preço.
Ele critica a opção pelas termelétricas — que demoram mais tempo para entrar em operação, são mais caras e mais poluentes — e diz que o país deveria apostar nas fontes renováveis bem planejadas e operadas.
Com informações do Jornal O Globo