
Nesta quinta-feira (3), o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro reagiu a informação sobre a reabertura das negociações para delação do advogado Rodrigo Tacla Duran com a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Interferência: Wall Street Journal recorda acusações contra Bolsonaro em entrevista com Moro
Tacla foi operador da Odebrecht entre 2011 e 2016. Em entrevista à Folha, em 2017, acusou o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento de Moro, de intermediar negociações paralelas dele com a força-tarefa da Lava Jato.
Na época, Moro era o juiz titular da 13ª Vara de Curitiba e conduzia as ações da operação.
Em nota, o ex-ministro afirmou que as acusações contra Zucolotto, a quem chama de “amigo pessoal”, já foram investigados pela PGR e arquivadas em setembro de 2018.
“Na ocasião, o relato não verdadeiro prestado por acusado foragido do país teve o destino apropriado: o arquivamento”, afirmou Moro.
Ainda na nota, o ex-ministro diz que “ninguém está acima da lei” e que está disposto a prestar qualquer tipo de esclarecimento – mas associou a retomada das negociações entre a PGR e o advogado com a sua saída do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A notícia da retomada da negociação foi publicada nesta quarta pelo jornal O Globo.
Procurada, a PGR informou que não vai comentar. O órgão é comandado atualmente por Augusto Aras, nomeado por Bolsonaro no ano passado fora da lista tríplice da categoria e que vem sendo questionado por posicionamentos alinhados ao presidente.
Apuração
A retomada da apuração, que havia sido arquivada em 2018, foi considerada pelo ex-juiz uma forma de Aras tentar atingi-lo e satisfazer Bolsonaro, com quem Moro está rompido. Ele deixou o governo acusando o presidente de tentar interferir politicamente na Polícia Federal para proteger família e aliados.
“Causa-me perplexidade e indignação que tal investigação, baseada em relato inverídico de suposto lavador profissional de dinheiro, e que já havia sido arquivada em 2018, tenha sido retomada e a ela dado seguimento pela atual gestão da Procurado ria-Geral da República logo após a minha saída”, diz a nota de Moro.
Relação
A relação entre Moro e Zucolloto foi usada pelo PT para basear desqualificar a atuação do ex-ministro quando atuava na Lava Jato.
A mulher de Moro, Rosângela, já foi sócia do escritório de Zucolotto. O advogado foi também defensor do ex-pro-curador da Lava Jato Carlos Fernando dos Santos Lima em ação trabalhista.
“Lamento, outrossim, que mais uma vez o nome de um amigo seja utilizado indevidamente para atacar a mim e o trabalho feito na Operação Lava Jato, uma das maiores ações anticorrupção já realizadas no Brasil”, afirma o ex-ministro.
Foragido
A força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba divulgou nota afirmando que Tacla Duran é foragido e tentou “induzir em erro autoridades no Brasil e no exterior para alcançar impunidade”.
“Há diferentes linhas de investigação em curso relacionadas a Rodrigo Tacla Duran, algumas das quais já conduziram a quatro ações penais a que responde no Brasil, por lavagem de dinheiro de centenas de milhões de reais, amparadas em provas como extratos de contas no Brasil e no exterior, e- mails e declarações de executivos de diferentes empreiteiras”, diz a nota.
Tacla Duran é alvo de quatro processos criminais no Brasil. O andamento das ações é lento por causa das dificuldades para citá-lo na Espanha. A força-tarefa de Curitiba o acusa de movimentar mais de R$ 95 milhões para a Odebrecht e outras empresas.
Com informações da Folha de S. Paulo.