O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que se notabilizou em 37 anos de história pela ocupação de propriedades no campo como forma de impulsionar a reforma agrária, decidiu lançar ofensiva eleitoral em 2022.
A estratégia de disputar o terreno da política institucional, ao lado de outros movimentos populares, prevê lançamento de candidaturas a deputado estadual e federal em pelo menos 15 Estados, além do Distrito Federal.
Buscando apoio do PSB, há 15 dias, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, recebeu representantes do movimento na sede do partido, em Brasília. O líder da Minoria, Marcelo Freixo (PSB-RJ), também participou da reunião.
Há também negociações avançadas com outras legendas, com PT, Psol e PCdoB.
O MST está presente em cerca de 36% dos 5.568 municípios do país, onde estão assentadas 450 mil famílias – outras 90 mil ainda estão acampadas. Considerando-se 3,07, segundo o IBGE, o número médio de pessoas por família no Brasil, o universo de brasileiros vinculados aos sem-terra soma aproximadamente 6,4 milhões de pessoas.
No entanto, na Câmara dos Deputados, há apenas três deputados reconhecidamente eleitos pelo movimento: Marcon (PT-RS), João Daniel (PT-SE) e Valmir Assunção (PT-BA).
Durante a pandemia, o MST resolveu se voltar para a produção de alimentos nos assentamentos. Agora, paralelamente à articulação para as eleições, retomou as ocupações de terras. Nos últimos vinte dias, promoveu três ações nos Estados de São Paulo, Bahia e Rio Grande do Norte.
A leitura feita pelos principais formuladores do MST é que as chamadas “forças populares” encontram-se na defensiva. Avaliam que é, por essa razão, que se justifica a necessidade de uma contraofensiva no campo institucional para que a esquerda não perca espaço. “O MST sempre deixou com os partidos de esquerda a luta institucional no Congresso. Nosso foco estratégico vai continuar na mesma direção, que é a ocupação de terra para a reforma agrária, mas, agora, vamos também fazer a disputa institucional”, justificou Alexandre Conceição, um dos coordenadores nacionais do movimento.
Parte dos nomes já escalados pelo MST para concorrer a cargos eletivos em 2022 nunca disputou eleição ou sequer esteve filiado a partidos políticos. São militantes da reforma agrária e de outras áreas. No Rio, por exemplo, a principal aposta para uma vaga na Assembleia Legislativa é Marina dos Santos, ligada a Freixo.
Militante do MST desde os 14 anos, Marina nunca teve filiação partidária. Agora, está em conversas adiantadas com PSB e PT. Há 25 anos, além da organização da luta no campo, ela também atua em conjunto com movimentos sindicais. Em Campo dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro, tem forte ligação com a categoria dos petroleiros.
Em Pernambuco, onde a organização sempre teve muita força política, quem deve concorrer a uma vaga de deputada estadual é Rosa Amorim, militante do Levante Popular da Juventude. Ela tem 24 anos e é filha de Jaime Amorim, dirigente histórico do MST. No Distrito Federal, quem tentará conquistar um mandato na Câmara é Erivan Hilário. Drag queen, disputará o pleito com o codinome “Ruth Venceremos”. Ativista do MST desde os 13 anos, a artista é coordenadora educacional do movimento e uma das responsáveis por levar a pauta LGBTQIA+ aos assentamentos. Formou-se na escola do movimento e graduou-se em pedagogia.
Há também a possibilidade de lançamento de nomes mais experientes. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o ex-deputado Frei Sergio Görgen (PT-RS), deverá tentar uma vaga na Assembleia Legislativa. A empreitada eleitoral do MST conta, ainda, com candidatos de organizações como o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento Camponês Popular (MCP), o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), o Levante Popular da Juventude e a Consulta Popular.
Com informações do Valor Econômico