O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou a 20ª edição da Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, que foi celebrada por cerca de quatro mil pessoas no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre. No local vivem 375 famílias, que têm como base de produção a agroecologia. Além de assentados de todas as regiões do estado, o evento reuniu lideranças, autoridades e apoiadores da política de Reforma Agrária, inclusive de outros países, como Cuba, Guatemala, Argentina e Venezuela. Entre os participantes, o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Paulo Teixeira, e o ex-governador Olívio Dutra.
Um dos pontos altos foi a tradicional colheita simbólica na lavoura, que envolveu dirigentes nacionais do MST, parlamentares, o ministro Teixeira e a especialista em alimentação saudável, Bela Gil. O momento foi comemorado com cantoria, aplausos e o grito de ordem “Viva a Reforma Agrária”, como reconhecimento às famílias que optaram por produzir alimentos saudáveis e preservar o meio ambiente.
Conforme Nelson Krupinski, do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, realizar a Festa da Colheita num território 100% livre de agrotóxicos e de transgênicos é simbólico e reforça o compromisso do MST com a vida. “Aqui são produzidas mais de sete mil toneladas de arroz orgânico, mas também tem hortaliças, feijão, milho, panifícios.” Ele agradeceu aos parceiros do movimento e entidades de pesquisas que ajudaram a viabilizar, há mais de 20 anos, o cultivo de arroz orgânico através de inúmeros experimentos.
O MST lidera há mais de dez anos a maior produção de arroz orgânico da América Latina, conforme o Instituto Riograndense de Arroz (Irga). A estimativa é colher mais de 16 mil toneladas na safra 2022/2023, em uma área de 3,2 mil hectares, segundo levantamento do Grupo Gestor. A produção, que envolve 352 famílias e sete cooperativas, ocorre em 22 assentamentos localizados em nove municípios das regiões Metropolitana, Sul, Centro Sul e Fronteira Oeste do estado. As principais variedades plantadas são de arroz agulhinha e cateto.
O ex-deputado federal e coordenador do site Socialismo Criativo, Domingos Leonelli, reafirma o caráter revolucionário do MST diante à sociedade. “O MST é a organização mais revolucionária do Brasil. Modernamente revolucionária. Junta a ação direta com ação política. Junta a mobilização à formação política e ideológica. Entre as ações Diretas está a produção ecológica para atender um mercado crescente”.
O município sede do evento é conhecido como a Capital do Arroz Orgânico, título que foi conferido a partir da Lei 4.751/2018, de autoria do então vereador e hoje deputado estadual Adão Pretto Filho (PT). Esse reconhecimento é fruto do trabalho cooperado das famílias assentadas, que além de contribuírem com a economia local, transformaram Viamão no maior produtor de arroz orgânico do Rio Grande do Sul. Lá, são cultivados 1.600 hectares do alimento.
Para reafirmar o comprometimento com esse modelo de produção e avançar na sustentabilidade, o MST inaugurou hoje a Unidade de Produção de Bioinsumos Ana Primavesi, viabilizada numa parceria entre o movimento, a Cooperativa Dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap) e Associação Internacional para Cooperação Popular (BAOBAB). A partir dela, os assentados poderão produzir seus próprios insumos, o que é sinônimo de mais autonomia e menos dependência das grandes empresas, além de crescimento da renda das famílias e melhoria da fertilidade do solo.
A Festa da Colheita também contou com ato político. O ministro Paulo Teixeira ressaltou que o presidente Lula tem responsabilidade com a Reforma Agrária e que a melhor forma de combater a pobreza e a miséria no campo é permitir, entre outras questões, o acesso dos trabalhadores à terra e ao crédito. “Estou colocando em debate um modelo de Reforma Agrária que seja de ocupação por agrovilas, com infraestrutura de luz e internet, com agroindústrias e cooperativas que possam desenvolver a terra. Nós queremos educação no campo e remodelar os créditos para que os mais pobres acessem, que contemplem as cooperativas e desenvolvam agroindústrias no campo”, informou.
João Pedro Stedile, dirigente nacional do MST, reforçou que o objetivo do movimento é produzir alimentos saudáveis, livre de agrotóxicos e sem trabalho escravo, em referência aos recentes casos ocorridos no RS. Destacou ainda a importância da organização social, para contribuir com o governo Lula e mudar a política econômica. “A fome é o ponto zero. Mas só dar comida não resolve o problema do Brasil. O que resolve é construir um outro projeto de nação, com soberania, e que de fato faça as mudanças estruturais no país”, observou.