O Datafolha é ainda muito bom para a campanha Lula. Caso o resultado final do primeiro turno seja esse eu vou ficar bem contente e entramos num segundo turno como francos favoritos.
Mas a questão que agonia – e há que se fazer um esforço para que não desespere – é que parece prevalecer na campanha e na base de apoio de Lula uma combinação que não me contempla entre:
1- Um certo quietismo, aquela lógica de administrar a vantagem, ir devagar, não criar arestas, contagem regressiva;
2- Pouca aposta na mobilização fora do tradicional do PT esquerda. Lula tem feito comícios nas capitais, geram imagens bonitas, falas idem, mas é celebração de convertidos; os comícios não são impulsionadores de uma verdadeira campanha para o Lula (comitês, grupos móveis, incursões em periferias e interior);
3- Movimentos e sinalizações “por cima” a setores das elites ou influentes;
4- Enraizamento da campanha quase exclusivamente nas mãos das candidaturas a deputado; que o fazem, mas tem como centro suas próprias eleições, evidentemente, mais do que convencer o eleitor que não é Lula a mudar de voto;
5- Um discurso muito predominantemente voltado para o passado, em que o presente e o futuro aparecem ainda como adendos.
Em política, o tempo é muito peculiar, e confundir o presente com o futuro é mais perigoso do que na gramática, alertou há quase cem anos um velho Bronstein: 30 dias não são logo ali. “Inútil dormir que a dor não passa”. A campanha Lula precisa se convencer de que o fato de estar na frente não significa que não deva apostar na politização. Seus milhões de eleitores tem que ser municiados de argumentos, ganhar os debates nas famílias, nos grupos virtuais e nas esquinas da vida.
Empolgados, em síntese, para fazer frente aos fanatizados.
É uma boa notícia que com a campanha mais cara do mundo e um grau de aparelhamento estatal desses, Bolsonaro não tenha virado. Ótimo. Mas ele tem a seu favor máquinas muito poderosas e uma força da ideologia ultraconservadora e obscurantista que recuou pouco nos últimos anos.
Será uma disputa difícil. Não se resolve com espera. Se resolve com luta.
Nosso espírito tem que ser o de convencer as pessoas, gente que se absteve, que votou em outros candidatos, que nunca votou na esquerda ou no próprio Lula. Isso é possível. Nossa direção tem que estimular isso e nos municiar com instrumentos. Sabemos fazer. Boralá!
*Artigo de autoria de Elídio Marques.
**Elídio Marques é professor de Relações Internacionais da UFRJ.
***Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.