
As mulheres já fazem parte há vários anos da podosfera brasileira produzindo conteúdo e contando histórias. Mas, apesar de estarem nas mais variadas funções —como roteiristas, apresentadoras, técnicas de som, entrevistadoras e editoras de podcasts— reclamam que esse crescente mercado ainda dominado por homens torna-as vítimas de descrédito profissional, constrangimentos e assédio.
Segundo reportagem do Tilt/Uol, a representação feminina também se reflete no público. Uma pesquisa da ABPod (Associação Brasileira de Podcasts) mostrou que 27% desses ouvintes eram mulheres em 2019. Parece pouco, mas houve um crescimento de 9% em relação aos dados de 2018. Segundo o streaming Deezer, o consumo nacional de podcasts subiu 67% em 2019. E o Spotify já aponta o Brasil como o segundo maior produtor de podcasts do mundo.
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Mas Ana Gabriela Nascimento, jornalista e apresentadora do podcast Ventre Nós, contou que, mais de uma vez, foi tratada por técnicos e donos de estúdio como se não entendesse daquele universo, dos equipamentos ou mesmo do conteúdo que estava sendo gravado. “Não chega a ser um perrengue porque isso não influenciou no nosso produto final, mas é desagradável”, explica.
Ira Croft, publicitária, podcaster, sócia e produtora do podcast Mundo Freak, conta que a mulher na podosfera sofre mais cobranças do que seus colegas do sexo masculino.
Aquilo que as mulheres produzem precisa ser infalível pois cada erro ou imperfeição é universalizado como uma característica feminina e não do indivíduo, ressalta Ira Croft.
Luiza Salles, uma das idealizadoras da produtora Podsim, diz que as mulheres ainda são minoria na produção desse tipo de mídia e que os podcasts mais conhecidos pelo público ainda são produzidos majoritariamente por homens. A presença masculina é mais acentuada em áreas técnicas.
“A falta de representatividade desestimula um pouco e inibe as mulheres de se colocarem tanto como apresentadoras quanto como engenheiras de som, produtoras musicais, editoras de áudio e outras funções desse mercado”, explica.
Para dar visibilidade ao trabalho feminino na podosfera e estimular a entrada de mais mulheres nesse universo, essas profissionais de áudio têm fundado coletivos. Ira Croft, do Mundo Freak, criou em 2014 o Mulheres Podcasters, que surgiu de uma hashtag de mesmo nome com objetivo de fazer com que veteranas e novatas se conhecessem e trocassem ideia.
Hoje o coletivo reúne mais de 300 podcasters mulheres e quase 500 programas com mulheres na equipe. Para ela, os coletivos de mulheres criaram uma rede de apoio fundamental para o desenvolvimento profissional.
“Isso dá segurança a uma potencial produtora, para que ela perceba que não estará sozinha, e permite a troca de experiências com outras produtoras de diversas realidades. Além disso, fomenta o mercado de produção, por conhecermos mais facilmente e indicarmos mulheres que trabalham em todas as etapas de produção de conteúdo”, explica.
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