Eleições municipais após a ascensão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) terá um cenário com partidos de esquerda divididos, candidatos bolsonaristas isolados e um novo xadrez de alianças nas capitais brasileiras, de acordo com levantamento feito pela Folha de S. Paulo.
Com o primeiro turno adiado para 15 de novembro por causa da pandemia do novo coronavírus, os principais partidos do país já lançaram pelo menos 220 pré-candidaturas a prefeito nas 26 capitais. Mas o número de candidatos ainda deve diminuir entre agosto e setembro, quando acontecem as convenções partidárias.
Com o fracasso do Aliança pelo Brasil, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não vai apoiar nenhum candidato nas eleições municipais. Mas terá aliados disputando cidades importantes, caso de Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio de Janeiro e Capitão Wagner (Pros) em Fortaleza (CE).
PSL
Após romper com o presidente, o PSL tem como meta eleger até 500 prefeitos neste ano. Contudo, terá poucos nomes competitivos, apesar de ter a disposição cerca de R$ 200 milhões do fundo eleitoral devido ao grande impulsionamento na época das eleições presidenciais.
Isolado mesmo nas capitais onde já tem candidatos, caso da deputada federal Joice Hasselmann, em São Paulo, e do deputado estadual Rodrigo Amorim, no Rio de Janeiro, o partido não conseguiu formar um arco de alianças. Procurado, o presidente da sigla, Luciano Bivar, afirmou que prefere não falar sobre eleições no momento.
PSDB
A legenda que mais elegeu prefeitos de capital em 2016 tem pré-candidatos em 17 capitais para o pleito deste ano. Cinco tentam a reeleição, incluindo prefeitos de grandes cidades como Bruno Covas (São Paulo) e Nelson Marchezan Jr. (Porto Alegre).
Devido o desempenho fraco na eleição de 2018, os tucanos apostam em caras novas na maioria das capitais, mas sem grandes arcos de alianças.
“O PSDB tem um projeto nacional e, por isso, é importante ter exposição e representatividade nas eleições municipais. Vamos apresentar candidatos já conhecidos e nomes que são novos eleitoralmente, mas com experiência administrativa”, afirma o deputado federal Beto Pereira (MS), secretário-geral do partido.
Esquerda dividida
Até o momento, o cenário da esquerda política brasileira é fragmentado. Enquanto PT e PSOL aproximam-se com apoio mútuo em seis capitais, o PDT firmou uma parceria com PSB no Sul e Sudeste e deve dividir o palanque com o DEM em quatro capitais do Nordeste.
As rusgas entre o PT e o PDT não parecem que serão esquecidas durante as eleições municipais e não formaram nenhuma aliança nas capitais. “Não existe veto, mas o PT não é a nossa prioridade”, afirma Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.
Apenas em Belém (PA) e Florianópolis, os partidos de esquerda conseguiram levar à frente o embrião de uma possível frente antibolsonarista, contando com a participação do PSB.
PSB
Na capital catarinense, um movimento que aglutina PT, PDT, PCdoB, PSB e Rede ganha corpo para apoiar o candidato do PSOL, Elson Pereira. Em Belém, PT e PDT vão apoiar o deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL), que já governou a capital paraense duas vezes.
Um dos nomes considerados mais competitivos do PT é o da deputada federal Marília Arraes, neta de Miguel Arraes (1916-2005), pré-candidata no Recife. Mas ela não é consenso dentro do próprio partido. Uma ala defende o apoio a João Campos (PSB), filho do ex-governador Eduardo Campos (1965-2014) e bisneto de Arraes.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, avalia que o relacionamento com o PT deve ser na base da reciprocidade.