
Os ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra a democracia deixaram apenas de ser um problema para os brasileiros e se transformaram em uma preocupação internacional. A análise é do americano Kenneth Roth, diretor-executivo da entidade Human Rights Watch, ex-procurador federal dos EUA e uma das vozes mais ativas no campo dos direitos humanos no mundo.
Um dia depois das ameaças feitas por Bolsonaro contra as instituições nacionais, Roth insistiu que o momento é de pressionar o governo. “Estamos muito preocupados com os ataques de Bolsonaro contra a democracia”, disse o chefe de uma das principais entidades de direitos humanos no cenário internacional.
Roth considera que, nos atos de 7 de Setembro, Bolsonaro “repetiu” a cartilha de Donald Trump ao questionar sem base uma suposta fraude nas eleições, além de atacar jornalistas e sociedade civil.
“Temos fé na democracia brasileira”, disse. “Mas Bolsonaro faz o que pode para minar essa democracia. É uma preocupação não apenas para os brasileiros. Mas para o resto do mundo e estamos acompanhando de muito perto o que está ocorrendo”, afirmou.
Roth insiste, porém, que tem esperança de que a democracia brasileira vai resistir aos ataques por parte do presidente. “Temos confiança nas instituições brasileiras. Os controles funcionam, a imprensa fez seu trabalho, assim como existe uma sociedade civil sólida”, disse. Mesmo assim, ele alerta que o momento é de “gerar pressão” sobre Bolsonaro.
Repercussão: “Ecos de Hugo Chávez”
Fontes diplomáticas confirmaram à coluna de Jamil Chade, do Uol, que o tom usado por Bolsonaro em seus discursos nos atos do 7 de setembro “assustaram”, principalmente no que se refere aos ataques contra o Supremo Tribunal Federal e sua insistência que só Deus o tiraria da presidência.
“Parecia que estávamos ouvindo os ecos de Hugo Chávez”, disse um negociador europeu, na condição de anonimato e numa referência ao populismo do ex-presidente da Venezuela. Uma representante do governo da Suíça também confirmou à reportagem que a situação brasileira está sendo “acompanhada de perto”.
Uma carta ainda assinada por dezenas de parlamentares e ex-presidentes de mais de 20 países também chamou a atenção para a crise brasileira, enquanto serviços diplomáticos e mesmo adidos militares saem em busca de informação sobre quais serão os próximos passos do presidente.
Antecipando-se ao ato, a própria ONU lançou um alerta contra os ataques de Bolsonaro contra as instituições, indicando que estava “preocupada” com a situação. A partir da semana que vem, porém, a pressão internacional sobre o presidente brasileiro deve aumentar, diante das reuniões nas Nações Unidas e uma agenda repleta de temas relacionados à democracia e direitos humanos.
Com informações do Uol