São duas coisas diferentes? São e não são. Como muitas outras coisas na política. Quando não definimos nossas posições a tempo e a hora como, por exemplo, uma candidatura própria do PSB que vocalizasse as teses avançadas da Autorrreforma, duas coisas aconteceram: Ciro Gomes foi se caracterizando como o único candidato com teses sobre um Projeto Nacional de Desenvolvimento e Lula como a única alternativa para derrotar Bolsonaro no primeiro ou no segundo turno das eleições de 2022.
Como se tornou consenso que a contradição principal do Brasil era entre a democracia ameaçada e o fascismo emergente representado por Bolsonaro e seu governo, a candidatura de Lula foi, naturalmente, se afirmando. Nessa mesma visão apresentou-se a candidatura de Alckmin como vice de Lula , correspondendo à necessidade de atrair o centro para a frente ampla democrática.
Eu, pessoalmente, sempre concordei parcialmente com essa tese, pois considero que uma outra contradição teria a mesma importância da anterior: a contradição entre o neoliberalismo entreguista e o desenvolvimento nacional soberano.
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Entretanto o que está posto é que o PSB, mesmo sem a aprovação formal do seu Congresso ou dos seus órgãos máximos de direção, notadamente o Diretório Nacional, já está apoiando a candidatura de Lula sem discussão previa sobre programa de governo, nem compromissos mais pragmáticos e eleitorais. A prática foi se impondo sem pedir licença à teoria e às formalidades.
E a questão da federação, um velho sonho estratégico da união das esquerdas mas que, como eu já disse em texto anterior, está sendo discutida na pior hora (em meio a negociações eleitorais), deixa de ser uma alternativa para se constituir numa espécie de necessidade. E porque numa necessidade? Primeiro, porque é a ultima chance que temos para discutir a sério parte, pelo menos, do Programa de Governo Lula 2022. E colocarmos lá algumas de nossas teses da Autorreforma como uma tributação dos ganhos de capital e de grande fortunas, o renascimento criativo da indústria, a Amazônia 4.0, a Amazônia Azul, a reforma politica e outras.
Segundo porque a federação pode se formar sem o PSB (com o PT, o PCdoB, o PV e talvez o PSOL) e isso isolaria politica e eleitoralmente o PSB e tornaria mais difícil a reeleição de boa parte de nossos deputados mais à esquerda, aqueles que votaram contra as contrarreformas da Previdência, Trabalhista, contra a privatização da Eletrobrás. E que tem possibilitado ao PSB junto com o presidente Carlos Siqueira, honrar a sua história como partido da esquerda democrática.
Confesso que tinha dúvidas sobre a formação da federação nesse momento de definições pré-eleitorais. Hoje entendo que é uma necessidade e uma oportunidade de influirmos no programa do próximo governo. Mas precisamos discutir profundamente a estrutura dessa federação que em nenhuma hipótese pode permitir o “hegemonismo” na definição de Aldo Fornazieri, nem a submissão de nosso partido a nenhum outro, em especial ao PT. Deixo claro que essa é uma posição estritamente pessoal, como militante e dirigente do PSB.
Embora essa seja minha impressão pessoal, na verdade o que temos é um “provável apoio” como me esclarece o presidente Carlos Siqueira. Uma sutil diferença mas que pode significar muito ao longo das negociações.
Por Domingos Leonelli, ex-deputado federal e coordenador do site Socialismo Criativo