O ambiente universitário é muitas vezes sinônimo de solidão para um negro ou negra. Entrar em uma sala e não se ver representado em seus colegas é uma situação comum na vida de quem consegue acessar este espaço ainda tão branco.
Segundo reportagem da Revista Trip, apesar da política de cotas, adotada por algumas universidades públicas, auxiliar na diminuição da desigualdade racial no ambiente acadêmico, o cenário em instituições particulares e em cursos considerados elitizados ainda é muito diferente.
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Uma das formas mais visíveis que permitem observar essa discrepância estão em fotos, como a que viralizou da médica Thelma Assis em sua formatura na universidade. A vencedora do Big Brother Brasil 20 não tinha nenhum colega negro em sua turma.
Thelma Assis, 35 anos, médica anestesista, bailarina clássica e vencedora do BBB 20
“Ao longo da minha vida, estive em vários ambientes onde era a única negra. Aconteceu quando me formei bailarina clássica, que é um curso elitizado, e nos dois anos de curso pré-vestibular, onde era uma minoria. Eu sempre me sentia desconfortável com essa situação, mas ao mesmo tempo utilizava esse cenário para servir de incentivo. Eu podia estar ali fazendo a diferença, estimulando outras pessoas a ocuparem esse espaço.
Entrei na PUC-SP em 2006, com bolsa de 100% pelo ProUni. O campus de Medicina era em Sorocaba e, das cem pessoas que formavam minha turma, eu era a única negra. Dos 600 alunos da faculdade, os negros não chegavam a dez. É impressionante como, em ambientes onde somos a minoria, acabamos nos vendo em outras pessoas negras e nos aproximando. Mesmo não tendo contato com todas elas, era um sentimento de fortalecimento, de admiração.
Como as pessoas negras não têm acesso às universidades de Medicina, o mercado de trabalho reflete esse lado estrutural. De todas as equipes que trabalhei, eu era praticamente a única anestesista negra. Eu ficava muito feliz quando encontrava algum outro colega, mas foram poucos, de contar nos dedos. Depois do BBB, tive o prazer de ser inserida em um grupo de 257 médicas negras, que visa fortalecer e incentivar cada vez mais nossa participação na profissão,” relembra Thelminha
Pedro Borges, 28 anos, jornalista e um dos idealizadores do portal Alma Preta
“Entrei na Unesp Campus Bauru em 2011, no curso de Comunicação Social/Jornalismo. Nessa época, a universidade não tinha nenhum programa de inclusão racial, então era um acontecimento quando chegava um negro ou uma negra. Por isso, senti uma enorme solidão. Muitas coisas eu não colocava para fora porque sabia que meus colegas brancos não iriam entender. Você acaba sufocando sentimentos dentro de você. Além disso, as piadas e os comentários racistas eram muitos e uma normalidade naquele momento,” afirma Pedro.
Pedro destaca que para a branquitude, se formar em uma universidade é um ciclo natural da vida. A pessoa nasce, entra em uma escola e já é provocada sobre qual faculdade vai fazer, qual curso. Para as famílias negras, é algo completamente fora da curva, uma novidade para enquanto grupo. Por isso é preciso ser o melhor, dar valor para esse espaço.
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