O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em forte pronunciamento no Plenário da Casa na quarta-feira (24), afirmou que o Legislativo não vai tolerar mais erros na condução do combate à pandemia da Covid-19. Ele subiu o tom e afirmou que “os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos”. O mais amargo deles é o impeachment e há 69 pedidos esperando análise dele.
Embora não tenha proferido a palavra do remédio, impeachment, o discurso de Lira tem um apelo forte e não é uma advertência qualquer. Líder do Centrão, o grupo de partidos de centro-direita que se tornou o principal eixo de sustentação parlamentar do Governo Bolsonaro, é dele o poder de analisar qualquer um dos quase 70 pedidos de impeachment contra o presidente ultradireitista e colocar um eventual processo em tramitação.
Segundo a Agência Pública, até o momento foram enviados 74 documentos com pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido) ao presidente da Câmara. São 58 pedidos originais, 7 aditamentos e 9 pedidos duplicados. Até agora, apenas cinco pedidos foram arquivados ou desconsiderados. Os outros 69 aguardam análise.
“Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas”, diz Lira
Em trecho duro de sua fala, o deputado de Alagoas afirmou que é preciso esgotar todas as possibilidades antes de partir para as responsabilizações individuais. Ele alertou que o tema mais importante do momento é o combate à pandemia.
“Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável. Não é esta a intenção desta Presidência. Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política.”
Arthur Lira
Lira acende sinal amarelo, mas alivia para Bolsonaro
Lira ressaltou durante o pronunciamento que estava “apertando hoje um sinal amarelo”. Ele avisou que não vai mais tolerar erros no combate à pandemia.
“Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar: não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados.”
Em seguida Lira amenizou o tom e disse não estar em busca de culpados no combate à pandemia. O presidente da Câmara ponderou que os erros não são cometidos por apenas um lado, mas ressaltou que há aqueles que têm mais responsabilidades e maior obrigação de errar menos. Para ele, em momentos de desolação coletiva, há uma forte tendência a linchamentos e, por isso mesmo, todos têm de estar mais alertas do que nunca, pois a dramaticidade do momento exige.
“Também não é justo descarregar toda a culpa de tudo no governo federal ou no presidente. Precisamos, primeiro, de forma bem intencionada e de alma leve, abrir nossos corações e buscar a união de todos, tentar que o coletivo se imponha sobre os indivíduos.”
Por fim, Lira pediu esforço solidário e genuíno de todos para produzir os resultados necessários para combater a pandemia.
“Mas alerto que, dentre todas as mazelas brasileiras, nenhuma é mais importante do que a pandemia. Esta não é a casa da privatização, não é a casa das reformas, não é nem mesmo a casa das leis. É a casa do povo brasileiro. E quando o povo brasileiro está sob risco nenhum outro tema ou pauta é mais prioritário.”
Esforço concentrado para a pandemia na Câmara
Lira anunciou duas semanas de ‘Esforço Concentrado para a Pandemia’. Nesse período, os demais temas da pauta legislativa vão ficar em pausa. Apenas assuntos relacionados ao enfentamento à Covid-19 e de como salvar vidas e obter vacinas, quais os obstáculos políticos, legais e regulatórios precisam ser retirados para que a população possa obter a maior quantidade de vacinas, no menor prazo de tempo possível.
“Faço um alerta amigo, leal e solidário: dentre todos os remédios políticos possíveis que esta Casa pode aplicar num momento de enorme angústia do povo e de seus representantes, o de menor dano seria fazer um freio de arrumação até que todas as medidas necessárias e todas as posturas inadiáveis fossem imediatamente adotadas, até que qualquer outra pauta pudesse ser novamente colocada em tramitação.”
Boas relações com a China e recado a Araújo
No mesmo dia do discurso no Plenário, pela manhã, Lira se reuniu com Bolsonaro e a cúpula do Congresso, do Judiciário e governadores aliados para criar um comitê anticovid. Nesse encontro, o deputado cobrou uma atuação mais incisiva do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, nas negociações de vacinas e insumos. O presidente da Câmara também pediu que o chanceler deixasse a ideologia de lado na condução da política externa.
Mais tarde, durante o pronunciamento no Plenário, Lira, sem citar nomes, listou problemas na política externa brasileira que interferem no enfrentamento à pandemia da Covid-19. Ao defender a importância de boas relações com a China e de uma imagem internacional de compromisso com o meio ambiente, Lira enviou mais um recado ao chanceler Araújo.
“Pandemia é vacinar, sim, acima de tudo. Mas para vacinar temos de ter boas relações diplomáticas, sobretudo com a China, nosso maior parceiro comercial e um dos maiores fabricantes de insumos e imunizantes do planeta. Para vacinar temos de ter uma percepção correta de nossos parceiros americanos e nossos esforços na área do meio ambiente precisam ser reconhecidos, assim como nossa interlocução.”
Com informações da Agência Câmara