“Valem só as operações contra ‘inimigos’ do Governo. Quando a Polícia Federal visa a rede criminosa de fake News, expert em destruir reputações, que se sabe até com dinheiro público, o esquema se mobiliza para atacar as instituições e vociferar ódio tentando intimidar autoridades”.
Foi assim que o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) resumiu, nesta quinta-feira (28), a razão do avanço das manifestações autoritárias e o tom intimidatório adotado por Jair Bolsonaro (sem partido) diante dos desdobramentos do inquérito que investiga o funcionamento do “gabinete do ódio”.
A opinião do parlamentar foi compartilhada por colegas de partido, como o deputado Bira do Pindaré (MA).
“O combate às fake news fere de morte o bolsonarismo. Por isso que milicianos estão enlouquecidos. Reagiram com ameaças de rupturas e violação das liberdades democráticas no mesmo tom golpista de sempre. Temos que vigiar, porém jamais recuar”, pontuou o maranhense, elucidando a razão do temor do presidente.
Afronta ao Supremo
Conterrâneo de Bira, o deputado federal Márcio Jerry (PCdoB-MA) definiu como “muito grave” os últimos sinais dados pelo presidente. “A presidência da República, ocupada por quem tem relação com milícias e quer transformar a Polícia Judiciária (da união) Federal em milícia familiar, o que jamais ocorrerá. Também muito grave o presidente da República afrontar ministro do Supremo na tentativa de cercear a ação do poder judiciário”, declarou.
Nesta quarta-feira (27), depois da Polícia Federal cumprir mandados de busca e apreensão relacionados ao inquérito que apura a veiculação de notícias falsas contra o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente não poupou na crítica. O inquérito é conduzido em sigilo pelo próprio STF e está sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
“Acabou, porra”
Em mais uma fala polêmica na manhã desta quinta, Jair Bolsonaro (sem partido) ameaçou o STF e seus ministros, afirmando que não haverá outro dia “como ontem”.
“As coisas têm limite. Ontem foi o último dia e peço a Deus que ilumine as poucas pessoas que ousam se julgar mais poderosas que outros e que se coloquem no seu devido lugar, que respeitamos. Chegamos, chegamos no limite. Acabou, porra”, disse na porta do Palácio da Alvorada, diante de apoiadores.
Minoria
Líder da Minoria na Câmara, José Guimarães reforçou o apoio à democracia e pediu a vigilância do Congresso. “Isolado do mundo e com as investigações em andamento que atingem o cérebro do governo, Bolsonaro parte para o ataque contra o STF e contra a imprensa. Chega! O congresso não pode silenciar”, declarou.
Cassação
Deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) buscou entender os motivos da irritação do presidente e recordou as possíveis consequências, se comprovado o envolvimento de Bolsonaro e sua família. “Incrível a irritação de Bolsonaro e ameaça de golpe. Chegaram nos bandidos divulgadores e financiadores de fake news. Como disse Bernardo Franco: abriram a cloaca do bolsonarismo desde 2018. As provas contra impulsionadores de mentiras levam à cassação da chapa por fraude”, recordou.
“Tirano”
No Senado, ex-presidente da Casa, Renan Calheiros (MDB-AL) disse defender a Constituição. “Bolsonaro desconhece os pilares do Estado Democrático de Direito. Por isso, não admite qualquer limitação aos seus poderes. Deseja governar como tirano, como se sua eleição lhe desse esse direito. Não dá. Nenhum poder na República se exerce fora dos contornos da Constituição”.