
Com cada vez mais indícios de corrupção na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde, a Polícia Federal (PF) abriu, nesta quarta-feira (30), o inquérito para apurar a compra do imunizante Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) partiu para o ataque aos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia.
Na terça (29), o ministro da Justiça, Anderson Torres, solicitou à PF a abertura da investigação e o Ministério da Saúde suspendeu o contrato com a Precisa Medicamentos para adquirir 20 milhões de doses da Covaxin.
Enquanto isso, o Centrão começa a preparar o desembarque do governo.
Bolsonaro acuado
Ao se ver no centro do escândalo, Bolsonaro fez o de sempre: atacou.
“Não conseguem nos atingir. Não vai ser com mentiras ou com CPI integrada por sete bandidos que vão nos tirar daqui”, afirmou durante evento em Ponta Porã (MS).
E voltou a usar as Forças Armadas para suas ameaças veladas à democracia.
“Só tenho paz e tranquilidade por sei que, além do povo, eu tenho as Forças Armadas comprometidas com a democracia e com a nossa liberdade”, disse.
Os ataques acontecem no mesmo dia em que os senadores da comissão aprovaram a convocação de Ricardo Barros para falar sobre as denúncias.
No evento, Bolsonaro também fez referência à sua base governista. Porém, parlamentares do Centrão, que permanecem em todos os governos até o limite de sua própria conveniência, se preparam para deixar o governo a ver navios.
Centrão prepara abandono a Bolsonaro
Em entrevista ao Congresso em Foco, nesta quarta, o vice-líder da bancada na Câmara, o deputado Fabio Trad (MS) fez um apelo ao presidente do partido, Gilberto Kassab, para que a legenda se afaste definitivamente de Bolsonaro.
Para Trad, não há comparação entre as acusações feitas contra Bolsonaro e as que resultaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
No caso de Dilma, observou, o questionamento era sobre uma manobra orçamentária. Agora, destacou, as denúncias são de crime, tanto em relação ao comportamento do presidente diante da pandemia quanto à suspeita de que o Bolsonaro prevaricou, ao não determinar investigação de um esquema de corrupção na compra de vacinas.
“O Ministério da Saúde é a Petrobras de Bolsonaro”, disse Trad se referindo ao escândalo do governo petista.
Silêncio no zap bolsonarista
O deputado conta que há um “silêncio sepulcral” nos grupos de Whatsapp dos quais participa com parlamentares do Centrão.
“Nos grupos de parlamentares de esquerda e centro-esquerda há um clima de euforia com as denúncias. Nos grupos do Centrão, todos fazem de cara de paisagem”, revelou. Os deputados não saem em defesa do presidente nem do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), suspeito de participar de um esquema de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin. “A CPI hoje está mais forte que o Centrão”, acrescentou ele.
Kassab dá sinais do desembarque
No sábado, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse ao jornal Valor Econômico que as denúncias de corrupção na compra de lotes da vacina Covaxin, ignoradas por Bolsonaro, são grande desgaste para o presidente.
“É um caso que precisa ser apurado. A denúncia é muito grave e a CPI não pode se omitir”, disse o ex-prefeito de São Paulo, que lidera uma bancada com 35 deputados na Câmara Federal e 11 senadores. Entre eles, o presidente CPI da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA). Ambos adotaram postura combativa na comissão.
Kassab também criticou o negacionismo do governo ante a pandemia. “Tenho dito sempre que a postura das pessoas que estão no governo na pandemia é equivocada, por não defender medidas como o uso de máscara e toda a demora na questão das vacinas. O PSD continua com sua postura. Somos independentes”, disse.
Relações da família Bolsonaro
O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da Oposição, cobra apuração de responsabilidades nas denúncias de corrupção e nas mortes pela covid-19.
O líder da Minoria, deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), cobra apuração do caso e o esclarecimento sobre as relações do dono da Precisa Medicamentos com a família Bolsonaro.
O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente, participou de uma reunião, em 2020, com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), Gustavo Montezano.
Montezano é amigo do senador, com quem se reuniu junto com Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, empresa que fechou o contrato de venda da Covaxin para o Ministério da Saúde.
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Com informações da Revista Fórum, Congresso em Foco, O Globo