Em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal (PF) identificou a existência de uma milícia digital que age contra as instituições e a democracia e teria usado a estrutura de um “gabinete do ódio”.
A suspeita é que esse grupo atue dentro do Palácio do Planalto, por meio de funcionários comissionados do governo Jair Bolsonaro (PL).
“Identifica-se a atuação de uma estrutura que opera especialmente por meio de um autodenominado ‘gabinete do ódio’: um grupo que produz conteúdos e/ou promove postagens em redes sociais atacando pessoas (alvos) – os ‘espantalhos’ escolhidos – previamente eleitas pelos integrantes da organização, difundindo-as por múltiplos canais de comunicação”, alegou a delegada Denisse Ribeiro, que assina o documento.
No documento, a delegada resumiu a maneira de atuação do “gabinete do ódio” em quatro fases. Na primeira, denominada de eleição, são escolhidos os alvos. Na segunda, a preparação, são definidas as tarefas dos membros dos grupos e definidos os canais em que as mensagens serão difundidas.
A terceira, o ataque, consiste “nas diversas postagens com conteúdo ofensivo, inverídico e/ou deturpado, formulado por várias fontes, por diversos canais e intensificado pela transmissão/retransmissão a integrantes do grupo que possuem muitos seguidores/apoiadores nas redes sociais, potencializando a difusão da notícia”.
Por fim conforme o relatório, há a reverberação, que é a “multiplicação cruzada das postagens por novas retransmissões, complementadas ou não com novos elementos agregados, inclusive realizada por autoridades públicas e/ou pelos meios de comunicação tradicionais”.
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Denisse Ribeiro também é a responsável por conduzir o inquérito das “fake news” sobre as urnas eletrônicas, que tem como alvo o presidente Bolsonaro e aliados dele. No relatório anexado investigação das milícias, ela afirmou a suposta organização criminosa atua com objetivo de alcançar ganhos político-partidários, financeiros e ideológicos.
A PF considera ainda que, diante das informações obtidas até agora, é possível identificar a estrutura montada e sua atuação orquestrada, com semelhança no modo de agir em ambos os inquéritos, mas reforça que é necessário realizar novas apurações.
“Há, da mesma forma, lacunas que precisam ser preenchidas, indicadoras da necessidade de realização de novas diligências voltadas à individualização dos fatos praticados, com indicação de autores e partícipes”, completou a delegada.
Procurado, o Palácio do Planalto ainda não se manifestou sobre as conclusões do relatório da PF.
A atuação da suposta milícia digital foi detectada pela Polícia Federal. Quando autorizou a abertura do inquérito, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, já havia afirmado que “a análise dos fortes indícios e significativas provas apresentadas pela investigação realizada pela Polícia Federal aponta a existência de uma verdadeira organização criminosa, de forte atuação digital”.
Recentemente, Moraes prorrogou o inquérito das milícias digitais por mais 90 dias, e autorizou o compartilhamento de informações com a apuração de um suposto vazamento de documentos sigilosos de uma investigação envolvendo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Com informações da CNN Brasil