Antes mesmo das recentes mobilizações antirracistas pipocarem mundo afora, em Santa Catarina há pelo menos seis anos uma mulher negra lidera iniciativa em educação feminista, com foco no combate ao racismo e valorização de narrativas negras. A plataforma Coletivo Di Jejê, de ensino à distância, foi fundada pela pedagoga Jaque Conceição, também coordenadora do projeto na cidade.
Ao O Globo, a criadora da plataforma conta que o modelo educacional da primeira escola antirracista do Brasil tem sido tão exitoso, que passou ser referência para a Organização das Nações Unidas (ONU).
“Somos uma escola antirracista cuja práxis está baseada na ideia de que é preciso a voz dos negros, das mulheres pretas, das trans, dos indígenas serem ecoadas, potencializadas e colocadas em seu devido lugar, inclusive o de destaque”, diz a paulistana radicada em Florianópolis.
Destaque nacional em injúria racial
E não por acaso a escola é sediada em Santa Catarina, estado que sustenta posição de destaque em casos de injúria racial. No final de 2019, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública detectou no estado o aumento mais acentuado no número de casos de injúria racial do país, de 337 para 1.060.
O dado alarmante levou a pedagoga a implementar a ideia do espaço educacional, com abordagem do assunto feita a partir das experiências negras em relação ao racismo.
Para essa abordagem, Jaque conta que priorizou referências bibliográficas de autores e autoras negras. São 85 cursos focados em pensadores contemporâneos como Angela Davis e Conceição Evaristo, desde R$ 70 (aulas avulsas) até R$ 600 (pacote anual).
Com mestrado na PUC-SP em Educação, História Política e Sociedade, ela conta que, enquanto pesquisadora no ambiente acadêmico, sentiu falta de discussões étnico-raciais.
“Não é pensar a dinâmica racial do Brasil e recorrer ao (sociólogo) Florestan Fernandes que tratou do negro na sociedade de classes. É um processo de interlocução que nos leva a pensar no conhecimento de outras maneiras, pensar nos marcadores, mas de outro lugar”, diz Jaque.
Ela explica ao jornal que, em um primeiro momento o coletivo oferecia cursos com as mesmas temáticas presencialmente, no quintal de sua casa. Espécie de embrião da escola, hoje conta com quatro professores – todos pretos – que trabalham com questões étnico-raciais a partir do feminismo negro.
Conheça aqui a história completa contada pela Jaque Conceição.