Por Plinio Teodoro
A alta do preço do gás de cozinha está fazendo com que famílias recorram às alternativas arcaicas para sobreviver. Reportagem de Fernanda Nunes e Layla Nery, na edição deste domingo (10) do jornal O Estado de S.Paulo, revela o drama de famílias brasileiras que estão retornando aos anos 1970, quando 80% dos lares usavam madeira em fogões à lenha ou improvisados para preparar a comida.
As jornalistas contam a história da vendedora ambulante Admoura Bastos, que vendeu o fogão e o botijão de gás para comprar o enxoval do bebê quando descobriu que estava grávida do quinto filho.
Moradora da periferia de Salvador, capital baiana, a mulher construiu um fogão à lenha amassando barro com os pés no quintal de casa e conta com a ajuda da filha, de 12 anos, para preparar no fogareiro o mingau do bebê, enquanto busca lenha para manter a chama acessa.
“Ela que é a dona da casa quando eu não estou. Fica o dia inteiro na boca do fogão fazendo mingau para a bebê. Ela assume mesmo, se incomoda com a fumaça. Os irmãos também tossem, mas ela é quem sofre mais”, disse a mãe.
A pessoa que cozinha num fogão a lenha construído de forma rudimentar, como o de Bastos, consome tanta fumaça em um dia quanto um fumante de dois maços de cigarro, segundo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em Matuípe, interior da Bahia, a família da faxineira Marinês Rocha não compra um botijão de gás há quatro meses. Ela conta que pagou R$ 82 da última vez (hoje, passa dos R$ 100). Ainda assim, mantém um restinho no botijão para uma emergência. “Enquanto a situação em casa não melhora, a solução é cozinhar a lenha.”
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