Nesta quarta-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enfrentou a mais dura manifestação de policiais desde o início do seu mandato. Dirigentes de 24 entidades que representam diversas categorias policiais se reuniram em Brasília para protestar contra o congelamento de salários, promoções e contratações por até 15 anos, consequências previstas na PEC Emergencial. A proposta teve seu texto-base aprovado em primeiro turno na madrugada desta quarta-feira (10) pela Câmara dos Deputados.
Integrantes da União dos Policiais do Brasil (UPB) alegam que, embora estejam na linha de frente de combate à Covid-19, não têm sido tratados como categoria de serviço essencial. Eles também acusaram o governo de promover desmanche da segurança pública no Brasil nos últimos dois anos.
Ontem, apertaram 17; hoje, arrependimento
Os representantes admitiram que grande parte da categoria votou em Bolsonaro em 2018, acreditando em seu discurso de combate à criminalidade e de valorização dos agentes de segurança pública. Segundo esses dirigentes, no entanto, boa parte da categoria está decepcionada e desmotivada por entender que o atual governo não tem compromisso com a área nem com o serviço público em geral.
Bolsonaro ignorou os apelos dos policiais, intermediados pela bancada da bala no Congresso, para que eles não fossem atingidos pelos efeitos limitantes da PEC Emergencial. A posição do presidente contrariou deputados governistas ligados aos policiais.
“Não vimos, até agora, apresentação de nenhum projeto de valorização da segurança pública. Os sinais mandados pelo governo contra a segurança pública são extremamente duros. O Ministério da Saúde, em seu plano de vacinação, priorizou presos em detrimento de policiais, gerando grande revolta nas nossas bases. Enfrentamos índice de contaminação de três a quatro vezes maior que a população comum. Permanecemos na linha de frente do combate à pandemia, pois só se cobra cumprimento das medidas sanitárias através das forças policiais”, criticou o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Judiciário (ADPJ), Rafael Sampaio.
“O governo coloca policiais e servidores como moeda de troca e bode expiatório. Os policiais acreditavam que seriam valorizados e estão extremamente desmotivados e decepcionados, pensando no que será dos agentes de segurança pública pelos próximos 15 anos. É uma PEC da maldade, da destruição da segurança pública do país”, disparou o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobracol), André Gutierrez.
Descaso
O presidente da Associação Nacional de Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, afirmou que a PF realizou mais de 6 mil operações e recuperou R$ 9,6 bilhões desde o início da pandemia e, mesmo assim, é tratada com descaso.
“A PEC traz dispositivos desproporcionais. Não é adequado congelar contratações por 15 anos. Neste período, teremos aumento de população, de criminalidade. Como vamos atrair profissionais com congelamento de progressões? Desde 2016 não há reajuste de salários”, criticou.
Com informações da Folha de S. Paulo