O setor de moda e varejo brasileiro vivencia uma primavera de aquisições e fusões. A Cia. Hering acaba de ser comprada por R$ 5,14 bilhões pelo Grupo Soma (dono das marcas Animale e Farm). Caso aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a fusão resultará na maior companhia de marcas de moda especializadas do país.
A fusão do Grupo Soma com a companhia catarinense especializada em moda básica transformará o novo negócio combinado em uma das cinco maiores companhias do setor de varejo de vestuário brasileiro. Os dados deixam clara a tendência de consolidação do segmento, que nas últimas semanas tem passado por fortes movimentações de fusões e aquisições.
Ainda que o mercado observe com hesitação o preço oferecido pelo Soma, o negócio coroa, pelo menos por ora, um movimento de consolidação desse segmento que, por muitos anos, foi visto como pouco lucrativo e com baixa capacidade de crescimento.
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Renner quer comprar a Dafiti
Enquanto isso, a Lojas Renner, em meio a uma oferta de ações que poderá render até R$ 6,5 bilhões, já decidiu, também, seu alvo: o e-commerce de moda Dafiti, que tem um valor estimado pelo mercado de R$ 10 bilhões. Se a aquisição avançar, a Renner se colocará, de vez, entre as maiores empresas do varejo de moda online no País.
“O setor de vestuário e calçados foi um dos mais impactados pela Covid-19 em todo o mundo por causa das mudanças do comportamento do consumidor e pelas restrições de deslocamento. Era de se esperar que esse também fosse um dos setores que apresentassem maior movimentação de fusão de empresas.”
Eduardo Yamashita, Gouvêa Ecosystem
O especialista destaca que a crise gerada pela pandemia, assim como outras passadas, gerou desafios, mas, ao mesmo tempo, oportunidades. “Há um claro movimento de consolidação no consumo brasileiro em que as empresas têm buscado se unir para ganhar mais musculatura para enfrentar as consequências da crise. Já outras aproveitam sua capitalização para ir a mercado unir forças”, diz.
Fusão de empresas além da moda
A fusão de empresas pode ocorrer basicamente por meio da integração vertical, horizontal ou para formar um conglomerado. Quando vertical, as companhias do mesmo setor unem forças, ainda que estejam em diferentes pontos da cadeia de suprimentos. Já a expansão do negócio por meio da integração horizontal ocorre no mesmo ponto dessa cadeia.
Apesar disso, em ambas as transações, o objetivo é o de se consolidar no mercado, por meio do aumento de potencial de exploração ou a possibilidade de monopólio. Algumas ainda almejam alcançar economia de escala ou, de forma defensiva, atender a uma especulação ao inviabilizar uma transação que inevitavelmente ocorreria com um concorrente direto.
Economia de escala na moda
Assim como é possível obter um preço mais baixo por item ao comprar em grandes quantidades, uma empresa maior opera com custos médios mais baixos do que vários pequenos negócios. Esse conceito é chamado de economia de escala: quanto maior a escala da operação, mais econômica ela se torna.
A economia de escala garante que a empresa assuma uma vantagem competitiva perante o mercado, além disso, facilita a expansão de processos e o desenvolvimento de produtos, uma vez que a redução de custos garante capital para investimento.
Quando as mercadorias são produzidas em grandes quantidades, o custo médio por unidade diminui, o que aumenta a lucratividade da empresa. Essa vantagem de custo na produção em larga escala favorece ainda a atuação da corporação em mercados maiores e ajuda a compartilhar recursos comuns para a produção de diferentes itens, o que aumenta a eficiência e elimina a redundância nos gastos operacionais.
Grandes conglomerados
A união de grandes marcas tem ido além do segmento de moda. Um dos maiores ecossistemas de negócios do Brasil, hoje, é o Magazine Luiza, que há muito tempo deixou de ser uma varejista de móveis e eletrônicos. O Magalu atua hoje em áreas que vão de moda e beleza, a delivery de comida. Apenas nos últimos meses, adquiriu a empresa de busca inteligente para e-commerce SmartHint, a plataforma multimídia Jovem Nerd e o e-commerce de supermercados VipCommerce.
No último dia 20, o Universo Americanas anunciou a aquisição de 70% das ações do Grupo Uni.co S.A., referência em varejo especializado de franquias no Brasil e dono das marcas Puket, Imaginarium, MinD e Lovebrands. No mês passado, o Carrefour Brasil anunciou a compra do Grupo Big, numa estratégia para ampliar sua atuação em regiões do País em que tem penetração limitada, como o Nordeste e Sul.
As inspirações vêm, principalmente, da China, onde dominam ecossistemas como Alibaba, JD.com, Tencent e Pinduoduo (cuja história foi contada recentemente por Eduardo Yamashita em artigo publicado no portal Mercado&Consumo). Além, claro, dos Estados Unidos, onde nasceu a Amazon, uma das maiores varejistas do mundo e que também já se arrisca em prestação de serviços de beleza.
Com informações da Folha de S.Paulo