Foi imediata a reação de parlamentares ao pronunciamento de Jair Bolsonaro na noite dessa terça-feira (30). Isolado politicamente após uma série de declarações controversas sobre a disseminação do coronavírus, alvo de frequentes panelaços pelo país, o presidente usou o espaço em cadeia nacional para distorcer a declaração do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) na tentativa de justificar seu discurso em favor do isolamento vertical. No entanto, não convenceu socialistas.
“Bolsonaro menospreza a pandemia do coronavírus querendo salvar-se do naufrágio: despreza vidas, distorce fatos, afronta organismos de saúde e a ciência; não lidera, atrapalha. Brasil está unido: contra coronavírus, a favor da vida, da dignidade do povo e da democracia”, declarou Camilo Capiberibe, deputado pelo Amapá.
200 mortos
Líder do PSB, Alessandro Molon (RJ) lamentou que o Brasil tivesse que chegar à marca dos 200 mortos – nesta terça, o Ministério da Saúde declarou 201 mortos pelo vírus – para que a consciência do impacto da doença fosse realmente mensurado.
“Foi preciso que o Brasil atingisse a triste marca de 200 mortes para que Bolsonaro finalmente reconhecesse que o novo coronavirus ‘é uma realidade’(!). Enquanto isso, há pessoas passando fome. Quantos mais precisarão morrer para que ele socorra os que se sacrificam em casa?”, questionou, anexando a hashtag #PagaLogoBolsonaro, na tentativa de pressioná-lo a sancionar o projeto aprovado em tempo recorde pelo Congresso para liberação do auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais .
A demora na sanção do texto também foi mencionada pelo pernambucano João Campos. “Em vez de sancionar a Renda Mínima de R$ 600 que vai amparar milhões de brasileiros durante a pandemia do coronavírus, Bolsonaro perde tempo distorcendo a declaração da OMS para validar seu discurso contra o isolamento”, lamentou.
Representando a bancada do PSB na Câmara, o deputado Elias Vaz criticou, no plenário da Casa, a postura do presidente Bolsonaro diante da crise do coronavírus. “Não é um debate ideológico, não é disputa entre direita e esquerda, o momento é de luta pela vida dos brasileiros”, apontou.
Já Danilo Cabral mencionou a repercussão da fala em seu estado. “Pernambuco teve o maior panelaço em linha reta do mundo!”, disse.
Pronunciamento
Durante o pronunciamento desta noite, o presidente admitiu que o coronavírus ‘é uma realidade’. Jair Bolsonaro não defendeu o isolamento parcial (apenas de pessoas no grupo de risco), como vinha fazendo em seus últimos discursos, mas seguiu falando sobre a preocupação com a economia. Analistas apontaram este como o pronunciamento mais ponderado desde o último, no dia 24 de março, que levantou críticas até mesmo de aliados.