
O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou o professor e diretor da Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (inCor), Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, como coordenador de um grupo sobre protocolos de combate à Covid-19. As informações foram divulgadas em primeira mão coluna Painel, da Folha de S. Paulo.
Carlos Carvalho é um dos maiores críticos do uso da cloroquina no tratamento de pacientes com coronavírus, desde que cientistas atestaram que o fármaco não possui eficácia no tratamento da patologia. O uso do medicamento é frequentemente mencionado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como uma alternativa de “tratamento precoce” da doença, que não possui tratamento preventivo comprovado cientificamente.
Leia também: ‘Kit Covid’ leva pacientes à fila do transplante de fígado
De acordo com o jornal, Queiroga pediu os protocolos usados no Hospital das Clínicas e no InCor para levar para todo o Brasil. Em abril de 2020, Carvalho chegou a comparar a eficácia da cloroquina no tratamento de Covid-19 à da Novalgina, ou seja, nenhuma.
Em entrevista à coluna Painel, Carvalho disse, porém, que, embora tenha tido seu nome anunciado pelo ministro, ele não terá um cargo específico.
“Me comprometi a ajudar nesse momento crítico. Não farei parte de ministério. Coordeno a teleUTI do InCor HCFMUSP (Hospital da Faculdade de Medicina da USP), tendo realizado mais de 7 mil atendimentos em diferentes hospitais públicos do estado de SP. Nesse sentido, capacitação de equipes e teleconsultoria, disse que poderia contribuir”, disse o professor.
Morte de pacientes com Covid-19 que usaram cloroquina
Na quarta-feira (24), o Hospital Nossa Senhora Aparecida, de Camaquã (RS), confirmou a morte de três pacientes com coronavírus que foram nebulizados com uma solução de hidroxicloroquina. O procedimento foi administrado pela médica Eliane Scherer, denunciada pelo hospital ao Conselho Regional de Medicina (CRM-RS) e ao Ministério Público, que já investigava a conduta dela.
Leia também: Saúde gastou R$ 70 mi destinados à Covid-19 para produzir cloroquina
Na sexta-feira passada (19), Bolsonaro defendeu a atuação da médica Eliane Scherer durante entrevista a uma rádio do Rio Grande do Sul. “A doutora me disse e eu já tinha comprovado isso também. Ela falou, muito humildemente, que não é uma ideia dela a questão da nebulização. A primeira vez que ouviu falar foi lá no estado do Amazonas”, afirmou o presidente na ocasião.
Segundo o diretor técnico do hospital, três dos quatro internados que fizeram o tratamento apresentaram taquicardia ou arritmias após a nebulização.
Nas redes sociais, a morte de pacientes gerou reação de parlamentares e personalidades. O médico infectologista e escritor Gerson Salvador relatou que, diariamente, encontra profissionais da saúde receitando o uso indiscriminado das drogas para pacientes e afirma que “médico que faz isso deveria responder por homicídio”.
Cada plantão encontro pacientes tomando hidroxicloroquina e ficam em casa por medo de serem intubados no hospital, mal orientados por médicos chegam em risco de morte imediato e a gente os trata já em péssimas condições. O médico que faz isso deveria responder por homicídio.
— Gerson Salvador (@gersonsalvador) March 19, 2021
Já o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) fez um trágico “cruzamento” de notícias sobre o caso.
19/03: Bolsonaro liga para rádio em Camaquã (SC) e defende nebulização de cloroquina em paciente com covid-19.
— Alessandro Molon ?? (@alessandromolon) March 24, 2021
24/03: Jornal mostra que três pacientes nebulizados com hidroxicloroquina diluída morreram em Camaquã (SC). pic.twitter.com/8ywyCpMFBn
“Bolsonaro genocida! Mais vacina e menos cloroquina!”
Em uma visita à Universidade de São Paulo (USP), o novo ministro da Saúde foi recebido aos gritos de “Bolsonaro genocida! Mais vacina e menos cloroquina!” por estudantes que seguravam cartazes de protesto contra o governo federal na entrada da Faculdade de Medicina. Queiroga faz visita à instituição nesta quinta-feira (25).
Os alunos seguiram protestando dentro do prédio da faculdade. Da sala onde participa de reunião, o ministro, os médicos e os professoras seguiam ouvindo os protestos, que ainda citavam “Fora Bolsonaro!“. O centro acadêmico também preparou um manifesto para ser lido na presença de Queiroga.
No texto, a entidade representativa de alunos cobrando do ministro informações de como ele atuará na administração da crise da Covid-19 e defendendo a “adoção de medidas radicais de lockdown nas regiões mais acometidas” pelo coronavírus. O documento também cobra a “aceleração significativa do programa de vacinação e medidas de combate às notícias falsas, desinformação e más práticas de prevenção e tratamento”.
Com informações da Folha de S. Paulo e G1