A violência sexual durante o conflito da Síria é uma forma de tortura e homens também são vítimas, especialmente entre LGBT‘s
“Eles nos tratavam de formas monstruosas” é o nome do relatório feito pela organização Human Rights Watch (HRW). Divulgado na última quarta-feira (29), o documento traz relatos de homens que sofreram estupros, assédios, mutilação dos órgãos genitais e outros tipos de abusos no Exército sírio, por parte de grupos terroristas como o Estado Islâmico (EI).
A organização entrevistou 44 refugiados, a maioria no Líbano, além de médicos, psicólogos e assistentes sociais que lidam com o tema. Entre as vítimas, apenas quatro eram homens heterossexuais, os demais são homens gays e bissexuais e mulheres transgênero – incluídas na pesquisa por serem vistas como homens afeminados na Síria e alvo das mesmas violências.
É inquestionável que mulheres são mais afetadas pela violência sexual em conflitos. No entanto, Pinar Erdem, autor do relatório, reforça a importância do tema, principalmente por conta da sua alta subnotificação. “O assunto pode parecer invisível, mas ocorre com muita frequência, e os números não refletem a realidade”, disse à Folha de S. Paulo.
O impacto do trauma sobre a saúde física e mental permanece meses ou anos: eles descrevem sinais de depressão, estresse pós-traumático e pensamentos paranóicos, além de infecções sexualmente transmissíveis, inclusive pelo vírus HIV.
“Quisemos jogar luz sobre a natureza sexual e de gênero desse tipo de violência e a necessidade de serviços voltados para atender esses sobreviventes, com suas necessidades específicas”, diz Erdem.
Minorias são principais vítimas
Na Síria, homens heterossexuais também estão sujeitos a esse tipo de agressão, mas gays e bissexuais – ou que são percebidos como tal, mesmo sem ser – são as principais vítimas, assim como as mulheres transgênero.
Nas prisões e nos postos de controle do regime, apesar de todos os homens estarem sujeitos a práticas como choques elétricos nos genitais, nudez forçada e estupro com objetos, os entrevistados pela HRW contam que, quando os guardas percebiam sua orientação sexual, intensificavam o grau de violência e perversão contra eles.
As vítimas afirmam que não buscaram ajuda porque não confiavam nos serviços médicos ou de saúde mental na Síria. No Líbano, também não encontram muito apoio de organizações humanitárias, que muitas vezes zombam deles e os menosprezam.
Para a HRW, prestadores de serviços e organizações humanitárias deveriam treinar seus funcionários para atender não só mulheres, mas também homens vítimas desse tipo de violência.
Com informações da Folha de S. Paulo