
Nesta semana, um vídeo pornográfico que supostamente mostra a cantora Anitta em cenas de sexo começou a circular pelas redes sociais. A repercussão foi tão grande que internautas começaram a questionar se a filmagem não era verídica.
A realidade é que a famosa cantora foi mais uma vítima do “deepfake”, tecnologia que utiliza inteligência artificial para recriar digitalmente os traços físicos de uma pessoa.
A informação de que o é falso vídeo foi dada pela assessoria da cantora ao Gshow. “Não se trata de Anitta, mas sim uma ação criminosa que utiliza de recursos digitais para enganar o público, fazendo uma inserção do rosto de uma pessoa em outra. Neste caso, muito mal feito, por sinal”, diz o comunicado.
Fazendo mais uma vítima, questionamentos sobre o deep fake foram levantados nas redes sociais. A usuária do Twitter, @sarahjava21 indagou ao questionar sobre o caso de Anitta: “Por que endossar uma tecnologia que só traz malefícios à sociedade?“
Deepfake não foi criado para tal função
Uma resposta simples a internauta é: a tecnologia não foi criada para isso. O recurso, recentemente, foi utilizado pelo rapper estadunidense Kendrick Lamar para transformar seu rosto no de Will Smith no videoclipe da canção “The Heart Part 5”, que será uma das faixas de seu novo álbum, “Mr. Morale & The Big Steppers“.
A prática vem sendo grandemente difundida no cinema e televisão, para a recriação de rostos de atores ou atrizes famosas que faleceram ou para retratá-los mais jovens, no corpo de um dublê. Mais recente, a série Stranger Things, da Netflix, utilizou a técnica para recriar o rosto da atriz estadunidense Millie Bobby Brown mais jovem.

Em suma, a tecnologia conhecida como deepfake consiste em recriar digitalmente, através de programas com inteligência artificial, os traços físicos de uma pessoa, de modo que se chegue a um resultado que reflete perfeitamente sua voz, gestos e expressões faciais.
A palavra vem da expressão “Deep Learning”, um método de aprendizagem avançada baseado em inteligência artificial.
E embora a tecnologia exista já há alguns anos, ela tem ficado tão sofisticada que é difícil dizer se o vídeo é real ou falso. Além disso, a técnica estourou com a popularização de softwares que ajudam a simular os movimentos com muita precisão.
Perigos do deepfake
O uso de deep fakes nas redes sociais é cada vez mais difundido e se popularizou com uma profusão de vídeos falsos de celebridades, além de ser usado largamente no mercado pornográfico — em especial no que é conhecido como pornografia de vingança ou na inserção do rosto de famosos.

Em época de eleições, a tecnologia aumenta as preocupações por serem facilmente usados para produzir conteúdos que buscam desinformar: as fake news. No âmbito político, já circulou uma deepfake de Donald Trump explicando como os algoritmos o ajudaram a ser eleito presidente dos Estados Unidos.
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A manipulação de imagens não é nova no meio: há trechos de vídeos retirados de contexto e casos em que a velocidade da fala foi adulterada para fazer parecer que a pessoa estava bêbada — a presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já foram alvos deste tipo de desinformação.
Esse vídeo pode passar como real pra muita gente. Usei deepfake pra inserir o rosto de Lula e transferir o timbre de voz dele pra fala original: é um computador falando. Precisamos ficar alerta neste ano eleitoral, pois, conteúdos com intuito de enganar podem aparecer. pic.twitter.com/4XhYl3mN2f
— Bruno Sartori (@brunnosarttori) February 24, 2022
Algumas plataformas adotaram medidas para mitigar os riscos das deepfakes nas eleições estadunidenses de 2020. A Microsoft lançou um software que ajudava a detectar a tecnologia. Já o TikTok baniu temporariamente as deepfakes no país.

Coordenador de jornalismo da Agência Lupa, voltada para a checagem de notícias, Chico Marés alerta para o fato de que há casos em que não há certeza se o conteúdo divulgado é uma deepfake.
Como exemplo, ele cita o caso de um vídeo íntimo atribuído ao ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), durante a campanha de 2018. Doria afirma ter sido vítima de manipulação digital. Em março deste ano, um laudo da Polícia Federal (PF) afirma que não há sinais de adulteração no vídeo.
“Vídeos de deepfakes podem ser usados para espalhar falsos rumores sobre candidatos. E até mesmo podem colocar em dúvida eventos verdadeiros, com a desculpa que tudo pode ser falso”, afirmou em entrevista em 2019 o pesquisador Aviv Ovadya, que investiga como a informação circula no mundo.
Usos benéficos da tecnologia
Não há só pessimismo no mundo dos deepfakes. Existem exemplos de uso positivo dos algoritmos de machine learning que deram vida ao novo fenômeno. O princípio da tecnologia está no reconhecimento e na reconstrução facial, o que indica um enorme potencial.
Na verdade, funções semelhantes já são empregadas em recursos presentes no dia a dia dos usuários da Internet.
Os ‘animojis’ da Apple e os ‘AR emojis’ da Samsung mapeiam a face de uma pessoa e reproduzem em tempo real suas expressões em bonecos virtuais. No Instagram Stories e no Snapchat, diversos filtros detectam e transformam os rostos dos usuários. Há inclusive um filtro de troca de rostos entre as pessoas de uma foto.

Em entrevista ao site Mashable, porém, o diretor da MultiComp Lab, parte da Universidade de Carnegie Mellon, afirmou que essa tecnologia pode vir a ter aplicações importantes para além do entretenimento.
De acordo com o pesquisador, se desenvolvidos com qualidade suficiente para operarem em tempo real, os softwares poderiam servir para oferecer terapia por videoconferência — útil a indivíduos que não se sentem confortáveis em mostrar o rosto. Ou para fazer entrevistas de emprego sem vieses de gênero ou raça.
PSB contra a desinformação
A partir de seu processo de Autorreforma, o PSB assumiu o compromisso contra a desinformação para garantir o uso responsável e ético das redes sociais.
“Compreendendo a importância das novas formas de comunicação, somente possível em razão do fortalecimento das chamadas redes sociais, o PSB insiste na necessidade do seu uso responsável e ético. Processos democráticos não admitem a produção de notícias falsas, as fake news”, destaca trecho do novo programa da legenda socialista.
Com informações da Folha e Gizmodo