São Paulo tem passado por uma intensa movimentação política em torno das candidaturas do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que pode determinar o rumo das eleições de outubro.
Na sexta-feira (13), o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira, figura histórica do PSDB, anunciou apoio ao petista já no primeiro turno. “O segundo turno já começou e eu não só voto no Lula como vou fazer campanha para ele no primeiro turno”, disse o ex-ministro das Relações Exteriores do governo de Michel Temer e da Justiça, de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
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No mesmo dia, o apresentador de TV, José Luiz Datena (PSC), afirmou que será candidato ao Senado por São Paulo com o apoio de Jair Bolsonaro. A confirmação ocorreu após um almoço com aliados políticos na casa do ex-presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
“Única coisa que posso adiantar é que o presidente confirmou a chapa. Para governador e para o Senado, Tarcísio [de Freitas] e eu. Confirmou os dois”, disse o apresentador.
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Após ter sido crítico do presidente Jair Bolsonaro, em quem disse não ter votado em 2018, Datena sela agora uma forte aliança e segue como o principal candidato ao Senado por São Paulo.
Na pesquisa Quaest, divulgada na semana passada, por exemplo, o apresentador da TV Bandeirantes está na liderança com 28% das intenções de votos, enquanto o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) vem em seguida com 16%.
Em entrevista à CNN, Bolsonaro defendeu a aliança com Datena. “É um grande comunicador, é muito respeitado e é ouvido por todas as classes sociais pelo trabalho que desempenha, sempre atento às demandas da sociedade. Ele vai agregar, com certeza, à chapa.”
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Para intensificar ainda mais esse cenário de reconfiguração da política paulista, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, convocou uma reunião para terça-feira (17). Ele pretende tratar da permanência ou não do ex-governador do estado, João Doria, na disputa ao Palácio do Planalto.
Ao jornal O Globo, Aloysio Nunes, declarou não ter dúvidas de que a campanha de Doria não tem viabilidade e que o momento é de decidir o futuro do Brasil. Ele chegou a chamar de “conversa mole” a decisão do PSDB de realizar pesquisas para definir a candidatura única em aliança com o MDB e o Cidadania.
Para Aloysio Doria já foi rifado pelo partido, está isolado, o que ele considera uma situação até mesmo “injusta”, mas acredita que o país está diante de uma “situação catastrófica”, que não tem espaço para uma terceira via.
“Não existe essa terceira via. Só existem duas: a da democracia e a do fascismo. Se quisermos salvar o Brasil da tragédia de Bolsonaro, teremos de discutir o que vamos fazer juntos. E hoje 70% dos eleitores já estão nesse polarização”, defendeu o ex-ministro.
Além do declarado apoio ao ex-presidente Lula, Aloysio Nunes defende a permanência da candidatura de Ciro Gomes (PDT).
“Presto as minhas homenagens ao ex-governador Ciro Gomes, cuja candidatura é bom que se mantenha, já que tem o seu recado a dar. Mas só quem tem condição de liderar um movimento popular é o Lula”, avaliou.
Apoio de Aloysio Nunes puxou a fila?
Ao declarar apoio ao ex-presidente Lula já no período de pré-candidatura, o tucano Aloysio Nunes se antecipou ao próprio partido. Há uma expectativa de que ele tenha puxado a fila que trará outros importantes nomes da sigla para apoiar a candidatura de Lula.
Para o ex-deputado federal, Domingos Leonelli (PSB), a adesão do ex-chanceler tem um grande significado e sinaliza uma intensa movimentação das forças políticas em São Paulo.
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“É voz comum entre os tucanos dizer que irão votar em Lula no segundo turno, mas ao se antecipar e já declarar voto no primeiro turno, Aloysio Nunes certamente trará outros importantes nomes do partido. Ele é um dirigente histórico e está no PSDB desde a sua fundação. É alguém que tem peso entre os tucanos”, avaliou o socialista.
Há uma expectativa de que outros dirigentes históricos, como José Aníbal e Arthur Virgílio possam aderir à campanha de Lula. Além do próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que por hora tem insistido na defesa do nome de João Doria.
No Twitter, FHC disse, neste domingo (15), que o PSDB deve respeitar as prévias do partido, realizadas em novembro. Na ocasião, João Doria venceu o Virgílio e o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
O impasse em torno do nome de Doria deve seguir pelo menos até a terça-feira (17), quando o PSDB se reúne para tratar do futuro da candidatura do ex-governador de São Paulo.
O que se sabe é que a candidatura de Lula e Alckmin, a presidente e vice, ganha força com a declaração de Aloysio Nunes. Ao mesmo tempo em que o palanque de Bolsonaro, em São Paulo, se fortalece com a pré-candidatura de Datena ao Senado.
Lula e Alckmin seguem em negociações com a chamada direita democrática para garantir a efetivação de um frente ampla para vencer Bolsonaro.