Por Julinho Bittencourt
O senador bolsonarista Luis Carlos Heinze (PP-RS), da tropa de choque do presidente Jair Bolsonaro na CPI da Pandemia no Senado, fez lobby para inclusão de empresas do setor veterinário na produção de vacinas contra a covid-19 e atuou como intermediário de negócios que incluíram a Precisa Medicamentos.
De acordo com reportagem de Constança Rezende e Vinicius Sassine na Folha, Heinze prospectou possibilidades de atuação da Precisa em parceria com grandes indústrias do setor animal para produção da vacina.
O senador agiu pouco antes de o escândalo da Covaxin vir à tona e três meses antes da existência de uma lei que permitiu a atuação de indústrias de vacinas veterinárias no ramo de imunizantes para covid-19.
A CPI da Pandemia investiga a Precisa pelo contrato de R$ 1,61 bilhão assinado entre a empresa, a fabricante indiana Bharat Biotech e o Ministério da Saúde para o fornecimento de 20 milhões de doses da vacina Covaxin. Há suspeitas de fraude e corrupção.
Leia também: CPI da Pandemia torna Ricardo Barros formalmente investigado
A empresa representava a Bharat Biotech no Brasil e já tinha assegurado, desde 25 de fevereiro, o contrato bilionário com o Ministério da Saúde.
O celular da diretora da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, registra oito chamadas de um telefone usado por um capitão de mar e guerra com cargo de gerência no Ministério da Defesa e quatro ligações de Heinze. As ligações do senador foram feitas em 18 de abril, nesse contexto do lobby pela produção de vacinas em indústrias de produtos veterinários, segundo pessoas a par das negociações.
Embaixador brasileiro na Índia foi abordado por senador
O embaixador brasileiro em Nova Deli (Índia), André Aranha Corrêa do Lago, disse que o senador o abordou sobre o assunto, como consta em ofício do Ministério das Relações Exteriores enviado à CPI.
O senador lhe comunicou que três empresas brasileiras de saúde animal estariam em tratativas com a Bharat Biotech (que produz a Covaxin) para adaptar suas plantas à produção de vacinas contra o coronavírus.
Heinze ainda organizou uma reunião com representantes do setor no Palácio do Planalto no dia 11 de junho.
Participaram o então ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos; das Relações Exteriores, Carlos França; da Agricultura, Tereza Cristina; da Saúde, Marcelo Queiroga; da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, além do presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.